Não foi preciso muito. Bastou o FC Porto não se apurar para uma final da Taça e, de repente, o Estádio do Jamor deixou de ter condições para servir de palco a um jogo daquela dimensão. Envelheceu de repente, como uma espécie de Dorian Gray a quem apunhalam o retrato pelas costas. De um momento para o outro, como num passe de magia, a tradição, a história e até a histeria deixaram de ter significado e o Jamor passou de prazo. De um momento para o outro, as históricas críticas do presidente do FC Porto à realização da final da Taça de Portugal no "estádio de Oeiras" deixaram de ser catalogadas como simples ataques de azia regionalista. Agora, está toda a gente de acordo, Federação Portuguesa de Futebol e o seu presidente, Gilberto Madail, incluídos: o Jamor está obsoleto. Em boa verdade, o Estádio Nacional está obsoleto há pelo menos duas décadas mas, pelos vistos, só Pinto da Costa é que tinha reparado. Se calhar, com os ataques de cegueira histérica que são comuns no nosso país, estas coisas conseguem perceber-se melhor à distância. E que momentoso acontecimento teve lugar para convencer o meio mundo que faltava da inexistência de condições para realizar a final da Taça no Jamor? Terá morrido alguém? Não, não pode ser isso. Porque já morreu alguém, há mais de dez anos, e bastou "reforçar a segurança" para que as razões sentimentais e tradição continuassem a ditar leis. Depois, havia o simbolismo mítico do próprio estádio, um marco da arquitectura fascista que tanto agradava ao antigo regime. Ora, num país que elege um ditador como melhor português de sempre, é evidente que muita gente tem saudades do antigo regime e é apenas natural que se agarre aos seus símbolos. O que justifica, então, esta revolucionária mudança de mentalidades? Pois bem, não há bilhetes que cheguem para duas equipas de Lisboa satisfazerem a curiosidade dos respectivos adeptos em relação à final da Taça de Portugal. Está mal. E se está mal, muda-se. Mas só porque são dois clubes de Lisboa a queixar-se, não vá alguém pensar que afinal Pinto da Costa tinha razão este tempo todo. Como dizia Vinicius, o Jamor é eterno enquanto dura.
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