O FCPORTO teve contra si o «factor Carolina Salgado/Apito Dourado», que se traduziu num campeonato inteiro em que, tendo sido vítima de vários erros de arbitragem, não teve a seu favor, e correspondentemente, uma única decisão favorável em jogadas controversas. Da 1.ª à 30.ª jornada, na dúvida, na mais pequena dúvida, todos os árbitros, sem excepção, decidiram sempre contra o FCPORTO.
FCPORTO
O FC Porto foi campeão — à tangente, sofridamente, com o credo na boca e o coração nas mãos, mas foi. Comandou da primeira à última jornada e teve um momento decisivo, pela positiva: quando foi à Luz, já com a morte encomendada, e mostrou a fibra de que se fazem os campeões. Era o grande favorito à partida e o que maiores obrigações tinha, porque dispunha do maior orçamento e da melhor equipa. Mas perdeu Anderson durante meio campeonato, Quaresma em quatro jogos e Pepe noutros quatro. Até Fevereiro, acumulou o campeonato com uma boa prestação na Liga dos Campeões e, não fossem as fatídicas férias de Natal, o fatídico jogo de Leiria, com a expulsão de Quaresma e duas derrotas consecutivas, a incapacidade demonstrada na recuperação fisica dos jogadores e uma inesperada instabilidade psicológica no final do campeonato, e poderia ter terminado tranquilamente o passeio que fez na 1.ª volta.
Porque, se as últimas imagens são as que mais perduram, é bom que as pessoas não se esqueçem que um campeonato são 30 jogos e não apenas os dez últimos. Por outro lado, e de uma forma que foi flagrante para qualquer observador atento e de boa-fé, o FC Porto teve contra si o factor Carolina Salgado/Apito Dourado, que se traduziu num campeonato inteiro em que, tendo sido vítima de vários erros de arbitragem, não teve a seu favor, e correspondentemente, uma única decisão favorável em jogadas controversas: nem um golo mal validado, um penalty mal assinalado, uma expulsão forçada de um adversário.
Da 1.ª à 30.ª jornada, na dúvida, na mais pequena dúvida, todos os árbitros, sem excepção, decidiram sempre contra o FC Porto — mesmo na última jornada, no Dragão, onde o golo do Desportivo das Aves, que podia ter valido um campeonato, foi obtido em offside. Quinze dias antes, no mesmo palco e contra o Nacional da Madeira, o que teria sido o primeiro golo do FC Porto foi invalidado por offside inexistente…
Campeão pela primeira vez, campeão merecidamente, com uma equipa que não fez e uma pré-época que não foi sua, Jesualdo Ferreira confirmou a regra de que no FC Porto qualquer um se arrisca a ser campeão. Há quinze dias, nesta crónica, defendi a sua continuação, qualquer que fosse o desfecho do campeonato. Agora, continuo a defendê-la, obviamente, mas estou mais à vontade para dizer que Jesualdo — ultrapassado esse Rubicão e as razões de um nervoso, às vezes quase paralisante, que se transmitia à equipa — tem agora muito que meditar.
Tem de deixar de ser tão conservador e previsível — por exemplo na aposta em jogadores a quem dá o estatuto de inquestionáveis, mesmo quando eles não estão em forma, como Lucho ou Helton— e tem de saber jogar a época com um plantel de 18/20 jogadores e não de 13/15. Tem de dar sinais claros de que sabe ler o jogo em andamento, não substituindo apenas por substituir, mas para influir no jogo, tem de esclarecer de uma vez por todas o que é e para que serve o meio-campo, para não ter de voltar a viver pesadelos como os do jogo com o Sporting, no Dragão, onde o meio-campo do FC Porto foi quase enxovalhado pelo do Sporting. Resta saber, é claro, quantos do seu trio genial— Pepe, Quaresma, Anderson— é que a nova/velha Direcção do clube vai vender este Verão…
SPORTING
Paulo Bento foi o treinador do ano. Inquestionavelmente. Partiu com o mais baixo orçamento dos três grandes, uma equipa de miúdos, que levou meio campeonato a afinar e a ensinar o que era jogar para a vitória. Por pouco, por muito pouco, tinha conseguido um triunfo que teria sido deveras impressionante e pedagógico. Ao intervalo do FC Porto-Desportivo das Aves, sabendo que o Sporting já vencia o Belenenses por 2-0 e observando mais uma melancólica exibição do FC Porto, eu já estava a mentalizar-me para aceitar que o Sporting seria um justo campeão. Porque a sua recuperação, o seu campeonato sem nenhuma derrota fora, a sua atitude de conquista, a sua crença, a sua capacidade de pôr pressão sobre o Porto e a sacudir de si próprio, o justificavam. Mas (felizmente!) o FC Porto entrou para a segunda parte do seu jogo de cara lavada e vontade de ser campeão. Isso não impede que se reconheça o grande campeonato feito pelo Sporting e a grande condução levada a cabo por Paulo Bento.
Mas há um reverso da medalha. Eu sei que, durante anos, os sportinguistas vão dizer que não ganharam o campeonato porque, no Sporting-Paços de Ferreira, da 2.ª jornada, o Paços ganhou com um golo marcado com a mão. E são esses detalhes, essa imagem de marca dos sportinguistas, que irritam os outros: o Sporting vive a queixar-se, a reclamar, a lamuriar-se, a encontrar sempre uma culpa alheia para os desaires próprios. É verdade que o Paços ganhou em Alvalade com um golo marcado com mão. Se isso não tem acontecido, o Sporting tinha empatado: perdeu aí um ponto. Mas, logo na jornada anterior, a 1.ª, venceu no Funchal o Nacional com um golo precedido de falta: se tem sido anulado, como deveria, teria empatado e não vencido: ganhou aí dois pontos. No Dragão, no jogo que relançou o campeonato, marcou o único golo na cobrança de uma falta que não existiu e, no último segundo, Pedro Hdenriques não teve coragem de assinalar penalty flagrante de Polga sobre Pepe. O mesmo Pedro Henriques, no jogo da Luz, perdoou duas vezes a expulsão a Caneira, e Lucílio Baptista, o árbitro preferido em Alvalade, perdoou penalty claro a Liedson, na penúltima jornada em Coimbra, quando havia 0-1. Mas já todos sabemos que memórias destas não constam do arquivo sportinguista.[SE FOSSEM SÓ ESSES...]
Felizmente, abortou a tentativa de conseguir ganhar o campeonato na secretaria, graças à repetição do jogo de Leiria — fundada em razões e expedientes jurídicos tão rebuscados e descarados que nada abonam à suposta atitude de cavalheiros que os sportinguistas acham que os caracteriza. Mas a mensagem foi clara: cavalheiros sim, mas para ganhar vale tudo, mesmo aquilo a que em direito se chama «litigância de má-fé». E foi pena, porque, como o disse, acho que, por aquilo que se viu em campo, o campeonato também não teria ficado mal entregue ao Sporting. Mas em campo, não na secretaria.
BENFICA
Os benfiquistas vão cair em cima de Fernando Santos, que é o elo mais fraco e mais fácil de atacar. Em minha opinião, muito injustamente. É certo que não foram campeões e que nem ao segundo lugar chegaram. Mas ficaram a um ponto do segundo e a dois do primeiro — o que é notável para a equipa que Fernando Santos teve ao seu dispor. Durante a primeira volta, e várias vezes vi o Benfica jogar um grande futebol, só que — como aconteceu também com o FC Porto e não aconteceu com o Sporting — o Benfica teve azar com as lesões e defendeu durante muito tempo uma campanha europeia de sucesso. O que sucede no Benfica é que há um desfasamento claro entre a arrogância do discurso constante do presidente e os meios que ele faculta aos seus para darem corpo à sua ambição. Fernando Santos não foi campeão no futebol — e o vólei, o basquete, o hóquei, o andebol? Em que é que o Benfica é campeão, para além do futebol de salão?
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