Olhado de cima e visto em perspectiva, Portugal é como um bilhar snooker que descai sempre para um buraco chamado Lisboa, que absorve, bulímico, os recursos humanos e materiais do resto do país.
O problema não é novo. Quem leu a "Queda de um anjo", de Camilo, sabe que este maléfico magnetismo já era poderoso mesmo num século como o XIX onde o Porto liberal, invicto e vitorioso da Guerra Civil, viveu um dos períodos de maior esplendor da sua história.
Ao nacionalizar os grupos económicos que viviam à sombra da protecção do Estado Novo, o 25 de Abril abriu o espaço para a emergência, a Norte, de uma nova geração de empresários, de que Belmiro de Azevedo e Américo Amorim são as cabeças de proa, que mudaram a face do país.
O poder económico deslocou--se para Norte, onde uma impressionante multidão de PME produtoras de bens transaccionáveis salvaram, com as suas exportações, o país da bancarrota.
Os empresários do Norte não ficaram à espera das privatizações e aventuraram-se a criar os primeiros bancos privados (BPI e BCP) após a revolução, numa altura em que os velhos capitalistas ainda mantinham bens e famílias na Suíça e no Brasil.
Cavaco pôs um ponto final a esta fase de desenvolvimento harmonioso e liberal da economia do país ao usar o programa de privatizações para fazer renascer os grupos engordados à mesa do salazarismo. Nenhum analista político e económico honesto deixará de identificar a década cavaquista como o período em que os portugueses, anestesiados pela chuva torrencial de dinheiro vindo de Bruxelas, consentiram na construção de um estado ultracentralista e fecharam os olhos ao nascimento de dois monstros (o do défice e o da Função Pública).
Fernando Gomes foi o líder que capitalizou a nível político o poder económico da região, que já se deslocava para o buraco negro lisboeta. A proclamação pela UNESCO do Centro Histórico do Porto como Património da Humanidade, o metro do Porto, o Parque da Cidade, o Porto Capital Europeia da Cultura, a Casa da Música são as marcas deste período áureo da metrópole que, com o seu porto de Leixões e aeroporto Sá Carneiro, é a cabeça natural da mais empreendedora região do nosso país.
Apesar de ser o líder respeitado de uma região e de estar informado das desventuras na capital do fidalgo minhoto Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda (o herói da novela camiliana), Fernando Gomes não resistiu ao cântico das sereias lisboetas e na primeira oportunidade trocou a vista da Avenida dos Aliados pela do Terreiro do Paço, com o resultado conhecido (o suicídio político).
A contínua migração para Lisboa de líderes e massa cinzenta tem de deixar de ser uma fatalidade.
Para ressurgir, a Região Norte precisa de políticos que olhem para o Porto, Aveiro, Braga, Guimarães, Viana do Castelo, Bragança, Viseu, Guarda e Vila Real como pontos de chegada - e não como pontos de partida.
|JN|
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