Francisco de Sá Carneiro (1934-1980)
Há 31 anos estava eu numa aula nocturna do Curso Geral de Administração e Comércio, na Escola Comercial de Oliveira Martins (a escola ainda lá está, transformada e com outro nome). Curiosamente a aula era de Introdução à Política, muito em voga naqueles anos emergentes de democracia. Subitamente alguém entrou pela sala aos gritos: Sá Carneiro morreu! Primeiro perplexo, depois chocado. Não acreditei, não queria acreditar. Afinal, ele era constantemente perseguido por uma certa esquerda, que ainda persiste, comunista e socialista, que via na sua figura um obstáculo aos seus propósitos hegemónicos com laivos de nova ditadura. Corri a Rua de Brás Cubas em direcção ao café que ficava (ainda lá está) na esquina com a Avenida Fernão de Magalhães. Este estava apinhado de gente de olhares fixos na televisão. E a notícia ecoava, absurda e brutal, acompanhada por imagens indecifráveis de destroços e fumo. Apenas se ouvia o murmúrio, entre dentes: «Assassinaram-no»!!! Lembro-me do profundo e jamais sentido desânimo, a raiva... Era como se o mundo estivesse a desabar. Na minha adolescência, dando os primeiros passos na política, acreditava que aquele Homem do Porto iria conquistar-nos o direito a uma democracia com norte, organizada e construtiva. A sua morte, o seu assassínio foi como que a marca, o fim de toda a esperança. Senti um ódio terrível por aqueles, poucos que esboçavam sorrisos e manifestavam prazer pelo sucedido: os comunas e os chuchas. Os merdas do costume, que nem na morte estavam a respeitar o desaparecimento do estadista, do homem e do nortenho. Nos dias seguintes nada, nem ninguém me demoveu sobre a convicção do atentado. Do crime, que se calculava já, sem castigo. O assassínio de Camarate foram a minha primeira grande e brutal desilusão. Nos homens e na política. Como li algures, eu também, desde então nunca mais confiei neste país manhoso, de honra manifestamente duvidosa, onde a impunidade, orquestrada pelas vozes do falso bom senso, continua a vingar. Convenientemente. Comodamente. Por entre esta espécie de cobardia de um povo acostumado.
Para mim, o Portugal de Afonso Henriques e de Camões morreu ali.
0 comentários:
Enviar um comentário