Há uma “esmagadora percentagem de convidados com origem geográfica na capital do país”, diz Felisbela Lopes, investigadora dos media, no livro “A TV dos Jornalistas”, publicado este mês. O estudo diz ainda que que a RTP N, actual RTP Informação, é a mais equilibrada na origem dos comentadores.
O estudo, que nesta parte intitula-se “Quando as elites da capital dominam o que se diz sobre o país e o mundo”, numa co-autoria entre a investigadora e Luís Miguel Loureiro, mostra uma distribuição geográfica muito desigual. Entre Setembro de 2010 e Julho de 2011, após analisar 1 673 programas e identificar 2 158 convidados, ficou claro que Lisboa domina: 76,5% dos comentadores são da capital. No lado oposto está o Algarve, que apenas teve cinco comentadores.
A mais equilibrada, a RTP N, tem uma explicação óbvia para o facto: é exibida a partir dos estúdios do Monte da Virgem, em Gaia. O que lhe permite ter 31,6% dos comentadores com origem nortenha. Mas, analisando a RTP1, o equilíbrio também é relevante, com 21% dos comentadores a chegar do Norte. Na SIC são 9% e na TVI é que não há dúvidas pois todos os seus comentadores são oriundos de Lisboa. Já o mesmo não se pode dizer da SIC Notícias, que tem apenas 7% dos convidados a comentar assuntos da actualidade com origem no Norte. E o resultado piora no caso da TVI 24.
O estudo analisa também a distribuição dos comentadores por categoria profissional. E constatou-se que 35% dos comentadores são jornalistas, seguidos dos políticos, que representam 22,6% das pessoas que fizeram comentário no período estudado. Do sector da academia e da investigação chegam boas notícias já que 11,2% dos comentadores são ou professores ou investigadores. Em quarto lugar vem o sector da economia e do sector empresarial, que representa 7,1% dos comentadores na televisão portuguesa. Juristas e magistrados superam por pouco, em termos de espaço de comentário, os agentes ligados ao futebol: 4,6% e 4%.
O fim da tabela é representado pelos comentadores ligados à cultura e também à saúde. Comentadores vindos das indústrias culturais equivalem apenas a 2,8% dos comentadores, ao passo que do sector clínico chegam ao ecrã nacional 1,9% do total dos comentadores.
Sobre o predomínio de jornalistas e políticos no comentário, os autores apelidam-nos de “engenheiros do social”, citando o investigador Sébastien Rouquette: “A força dos engenheiros do social é de existir fora dos seus problemas profissionais próprios, fora dos escândalos que envolvem a sua corporação, das reformas jurídicas dolorosas ou das greves duras”.
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