Também temos cá a pós-verdade. A peça inicial deste processo é onde Centeno é transparente e verdadeiro.
O momento em que Mário Centeno não mente é em 25 de Outubro passado, quando assume com uma clareza infinita que os gestores da CGD não terão que entregar declarações de rendimentos. Isso está escrito: é um comunicado oficial do Ministério das Finanças enviado a várias redacções. Se Marcelo quer um papel escrito a defender uma posição que, a seu ver, seria “inaceitável”, já tem este. Não foi um erro dos assessores.
Foi assumido dias depois em voz alta pelo próprio ministro. O comunicado do Ministério das Finanças é tão cristalino sobre o assunto que é uma pena ter sido esquecido, devagarinho, na voragem dos acontecimentos, através de uma laboriosa construção de um facto alternativo por Costa e pelo ministro das Finanças. Também temos cá a pós-verdade. A peça inicial deste processo é onde Centeno é transparente e verdadeiro. Assume que combinou com os gestores da Caixa a “desobrigação” dos aborrecimentos que calham a uma pessoa em funções públicas, que é entregar declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional.
É importante voltar a ler esse documento essencial porque o processo de controle de danos que Costa levou a cabo conseguiu que se instalasse na opinião pública a dúvida sobre se o Ministério das Finanças tinha de facto combinado essa excepção. Diz o comunicado, que negava que fosse “lapso” o facto de os gestores estarem isentos de apresentarem declarações: “A ideia é a CGD ser tratada com qualquer outro banco. Essa foi a razão para que fosse retirada do Estatuto do Gestor Público. Está sujeita a um conjunto de regras mais profundo, como estão todos os bancos. Não faz sentido estar sujeita às duas coisas. Não foi lapso.
O escrutínio já é feito. Os corpos dirigentes da CGD têm que prestar contas ao accionista e aos órgãos de controlo interno. Estão assim disponíveis para revelar essa informação [sobre o rendimento, património e possíveis incompatibilidades] ao accionista”. Centeno, aqui, não mente. Dias depois, insistiria, de viva voz, que não havia “qualquer falta de escrutínio” e que a CGD respondia ao accionista Estado. Esta é a verdade e os factos reais. A pós-verdade e os factos alternativos começam a construir-se depois. O documento escrito a defender uma “posição inaceitável” já existe, senhor Presidente.
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