Surpreendentemente, o presidente do Sporting apareceu esta semana a dizer que se iria embora se a Câmara Municipal de Lisboa não viabilizasse a pretensão do clube de poder vender como urbanizáveis uns terrenos que estão afectos à prática desportiva ou outros fins. Em causa estará um encaixe previsível de 35 milhões de euros, se a CML aceitar alterar o PDM da cidade e rever a utilização consentida para os terrenos. Surpreendentemente também, Carmona Rodrigues apressou-se a responder que tudo irá fazer nesse sentido. E surpreendentemente ainda, ficámos a saber que esta negociação confidencial já teria sido objecto de um acordo particular entre Carmona e Soares Franco. Queria apenas recordar que não passou ainda nem meia dúzia de anos desde que a CML, pela mão de Santana Lopes, assinou com Benfica e Sporting acordos que viabilizaram financeiramente a construção dos novos Estádios de Alvalade e da Luz, em termos tão generosos que uma das cláusulas previa até a construção de uma urbanização, integralmente a expensas da CML, cujos lucros, após venda, seriam repartidos em partes iguais pela Câmara e pelos clubes (e sucedeu até que, nunca tendo sido construída a tal urbanização, a CML antecipou a ambos os clubes 15 milhões de euros pela sua parte nos «lucros» de tão leonino negócio»). Esta e outras cláusulas dos ditos acordos tornaram-nos de tal maneira generosos, que a última cláusula estabeleceu que nunca mais, no futuro, Benfica e Sporting voltariam a pedir qualquer coisa à Câmara. Esqueceram-se foi de acrescentar que se tratava do futuro muito próximo… Agora é o Sporting, a seguir virá o Benfica. Entretanto, quem, como de costume e aqui como no resto, continua com a má fama é o FC Porto. Apenas porque Rui Rio, ao invés dos seus colegas de Lisboa, resolveu estabelecer uma guerra-modelo contra o FC Porto e porque um inspector das Finanças não conseguiu perceber nada do Plano de Pormenor das Antas (iniciado pela Câmara, e não pelo clube). E, entre outras coisas, não atentou nesta diferença fundamental: é que o FC Porto, ao contrário dos clubes de Lisboa, era, à época, proprietário de um vasto património imobiliário: 17 hectares de terreno, livres e disponíveis, que viriam a reverter em grande parte, para o Município, no âmbito do Plano Geral de Urbanização das Antas, que, conforme está à vista de todos, foi muito mais e muito melhor para a cidade do que a simples substituição de um estádio velho por um novo. Mas quem, neste país, é que se dá ao trabalho de estudar a fundo as questões complexas, de ler os dossiers, de ver os contratos e compará-los, em lugar de adoptar logo como verdade conveniente a primeira atordoada que alguém se lembra de lançar para o ar?
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