DELITOS À MODA DO PORTO. No seu editorial de hoje, o Manuel Carvalho escreve no Público sobre aquilo que tenho vindo a denunciar aqui no blogue: o clima concentracionário e anti-democrático que se respira no Porto com Rui Rio na Câmara. O mote é a perseguição a David Pontes, director-adjunto do JN.
Sugiro a todos os leitores a mais ampla divulgação desta vergonha, de resto motivada por uma nebulosa de mentiras de Rui Rio na entrega do Rivoli a La Féria.
«Delitos à moda do Porto
Por estes dias em que tanto se discutem as pressões do poder sobre os media, aconteceu na segunda cidade do país um episódio que nos remete para os tenebrosos tempos em que se perseguiam cidadãos por manifestarem ideias em público.
A história que se conta na página 13 resume-se em poucas palavras: um jornalista que desempenha um cargo directivo no Jornal de Noticias decidiu participar numa acção de protesto contra a cedência de um espaço público, o Teatro Rivoli, a Filipe La Féria; o jornalista é filmado sem autorização no exercício dos seus direitos de cidadania, as imagens são então servidas no site da Câmara do Porto através de um link que acompanha um texto com o título sugestivo de que o JN “endurece oposição: director adjunto manifesta-se contra a Câmara do Porto”.
Quanto tanto se fala das tentativas do Governo em coagir os jornalistas e de cercear o seu acesso às fontes de informação, é fundamental que se olhe para o que acontece há anos na Câmara do Porto. Porque se há lugar no país onde se respira o ar “claustrofóbico” que o PSD denunciou nas cerimónias do 25 de Abril esse lugar é o Porto. No debate público, não há direito as divergência, a críticas ou a opiniões livres sobre o município.
A verdade tem um dono e os que a questionam são os que fabricam campanhas contra o líder. Rio exige desculpas aos que discordam das suas opções, Rio proibiu jornalistas de aceder a conferências de imprensa, Rio exerceu pressões sobre os patrões da imprensa para que removessem direcções de jornais, Rio limitou o acesso a subsídios municipais a agentes da cultura que se abstivessem de o criticar publicamente. Agora, na sua escalada de autoritarismo, decide exibir imagens obtidas sem conhecimento para provar o “crime” do jornalista.
Mas o mais grave nem é a tentativa de explicar o registo crítico de um jornal com o exercício de cidadania de um dos seus responsáveis, por muito que seja discutível a sua opção em participar em manifestações contra a câmara. O que fere mesmo é o método utilizado para o fazer. É deplorável encontrar na página oficial de uma autarquia a tentativa de assassinato de carácter de um cidadão pelo recurso a uma prosa duvidosa (até as ligações familiares são objecto de associação) e a exibição de imagens obtidas de forma ilegítima como testemunho. Neste particular, a Câmara do Porto e os seus spin doctors transcenderam-se e atingiram o limiar do inaceitável. O sentido da decência e do respeito pela liberdade, incluindo a liberdade de errar, não existe naquele clube intolerante.
Protegido por parte da opinião pública que lhe aplaude o lado positivo da sua acção política (que existe), Rui Rio segue em frente. O seu site (que omitiu, por exemplo, a manifestação de cerca de mil pessoas na estreia de La Féria) tornou-se a sua Pravda, que retorce, desmente ou erige as notícias que fazem a hagiografia do chefe. O seu caminho faz-se com poucos solavancos porque reina sobre uma cidade triste e acomodada que há muito se esqueceu que é o berço do espírito liberal do país.
Comparado com ele, José Sócrates, os seus assessores e chefes de gabinete são aprendizes. É por isso que, antes de atirar pedras ao Governo sobre o clima de “claustrofobia” que se vive no país, o PSD tem o dever de olhar com atenção para o exemplo que acolhe dentro das suas próprias fileiras.» [negritos meus]
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