Professor de Teoria Política
Temos um país rico em Lisboa e um país pobre no Norte que, apesar de tudo, vai produzindo para o mercado global.
(...)
Em dez anos, a riqueza criada ‘per capita’ na região Norte desceu de 67% para 59% da média comunitária. Na zona do Grande Porto, tradicionalmente privilegiada em relação ao total da região Norte, a queda foi ainda maior. Hoje em dia, o Norte do país é uma das regiões mais pobres da Europa e com dificuldades para recuperar.
No mesmo período, a divergência do Norte em relação à região de Lisboa acentuou-se. O salário médio de um lisboeta está 252 euros acima do salário de um habitante do Norte. Para além de menos rendimentos, o Norte tem também mais desemprego, sobretudo de longa duração.
Há unanimidade sobre as razões da crise: a concorrência acrescida dos novos membros da UE e dos países asiáticos; a prevalência de um tecido empresarial de mão de obra intensiva que não se renovou suficientemente; um défice de qualificações, de empresários e trabalhadores, mas principalmente e ainda mais dramático do que noutras regiões do país; o alargamento da distância política em relação a Lisboa.
(...)
O empobrecimento relativo da região Norte em relação ao resto da Europa e à própria região de Lisboa tem um aspecto paradoxal.
O Norte continua a ser a região mais exportadora, enquanto que Lisboa importa muito mais do que exporta. A recente recuperação da nossa balança comercial deve-se às empresas do Norte. Assim, temos um país rico em Lisboa, mas que não exporta para o mercado global, e um país pobre no Norte e que, apesar de tudo, vai produzindo para o mercado global.
A explicação para este paradoxo tem muito a ver com o papel do Estado na sociedade portuguesa. Os rendimentos mais elevados na região de Lisboa devem-se, em boa parte, ao facto de estar aí concentrada grande parte do funcionalismo público. Como os salários dos trabalhadores não qualificados e dos quadros médios da função pública são superiores aos do sector privado, não admira que o rendimento médio em Lisboa seja superior.
Por outro lado, assistimos, nos últimos anos, a uma concentração cada vez maior das sedes das empresas em Lisboa. Mesmo aquelas que têm a sua origem no Porto ou no Norte tendem a deslocar as suas administrações e quadros superiores para a capital, se não de direito, pelo menos de facto. Isso deve-se à maior atractividade desta em termos de investimento público e também ao facto de convir às empresas a proximidade com o Terreiro do Paço. Em Portugal, como noutros países do sul, os negócios privados e públicos fazem-se mais através das ligações pessoais do que mediante o respeito por procedimentos abertos, transparentes e concorrenciais.
A imensidade do Estado e o seu clientelismo estão pois na primeira linha de responsabilidade pela situação a que chegou a região Norte. Mas, enquanto o Norte se afunda na sua crise, o país precisa de descobrir que não pode viver sem ele.
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Em dez anos, a riqueza criada ‘per capita’ na região Norte desceu de 67% para 59% da média comunitária. Na zona do Grande Porto, tradicionalmente privilegiada em relação ao total da região Norte, a queda foi ainda maior. Hoje em dia, o Norte do país é uma das regiões mais pobres da Europa e com dificuldades para recuperar.
No mesmo período, a divergência do Norte em relação à região de Lisboa acentuou-se. O salário médio de um lisboeta está 252 euros acima do salário de um habitante do Norte. Para além de menos rendimentos, o Norte tem também mais desemprego, sobretudo de longa duração.
Há unanimidade sobre as razões da crise: a concorrência acrescida dos novos membros da UE e dos países asiáticos; a prevalência de um tecido empresarial de mão de obra intensiva que não se renovou suficientemente; um défice de qualificações, de empresários e trabalhadores, mas principalmente e ainda mais dramático do que noutras regiões do país; o alargamento da distância política em relação a Lisboa.
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O empobrecimento relativo da região Norte em relação ao resto da Europa e à própria região de Lisboa tem um aspecto paradoxal.
O Norte continua a ser a região mais exportadora, enquanto que Lisboa importa muito mais do que exporta. A recente recuperação da nossa balança comercial deve-se às empresas do Norte. Assim, temos um país rico em Lisboa, mas que não exporta para o mercado global, e um país pobre no Norte e que, apesar de tudo, vai produzindo para o mercado global.
A explicação para este paradoxo tem muito a ver com o papel do Estado na sociedade portuguesa. Os rendimentos mais elevados na região de Lisboa devem-se, em boa parte, ao facto de estar aí concentrada grande parte do funcionalismo público. Como os salários dos trabalhadores não qualificados e dos quadros médios da função pública são superiores aos do sector privado, não admira que o rendimento médio em Lisboa seja superior.
Por outro lado, assistimos, nos últimos anos, a uma concentração cada vez maior das sedes das empresas em Lisboa. Mesmo aquelas que têm a sua origem no Porto ou no Norte tendem a deslocar as suas administrações e quadros superiores para a capital, se não de direito, pelo menos de facto. Isso deve-se à maior atractividade desta em termos de investimento público e também ao facto de convir às empresas a proximidade com o Terreiro do Paço. Em Portugal, como noutros países do sul, os negócios privados e públicos fazem-se mais através das ligações pessoais do que mediante o respeito por procedimentos abertos, transparentes e concorrenciais.
A imensidade do Estado e o seu clientelismo estão pois na primeira linha de responsabilidade pela situação a que chegou a região Norte. Mas, enquanto o Norte se afunda na sua crise, o país precisa de descobrir que não pode viver sem ele.
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