O país fica realmente dividido em dois: a norte do rio Vouga a bandeira de Portugal é azul e branca e o regime é monárquico. A sul a bandeira é verde-rubra e o regime é republicano. É o período da história conhecido com Monarquia do Norte ou o Reino da Traulitânia. Em 1919 foram apenas vinte e cinco dias de restauro parcial da monarquia.
O general Paiva Couceiro, militar que se destacou na defesa da monarquia durante a revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, foi um dos poucos monárquicos que não se conformou com a implantação da república. Exilou-se na Galiza, com outros monárquicos e, a partir dali, procurou combater o regime republicano pelas armas.
A partir de Espanha organizou um exército, embora pequeno, para restaurar a monarquia em Portugal. Pretendia a realização de um plebiscito popular e a restauração da Carta Constitucional de 1826 e assim mostrar que existia uma alternativa monárquica para Portugal.
Fez várias incursões no país. A primeira foi exactamente um ano após a implantação da república. Teve um impacto e significado simbólicos pois limitou-se a conseguir hastear a bandeira azul e branca em Vinhais. A segunda deu-se em 1912, já teve mais resultados pois o exército monárquico penetrou em Valença, Vila Verde e Chaves. Seguem-se alguns levantamentos populares em Cabeceira de Bastos, Celorico de Bastos, Fafe e Vieira do Minho. Não obstante, as forças republicanas neutralizam a incursão, que assim termina com a fuga dos monarquistas para Espanha.
Uma terceira tentativa seria mais marcante. No ano de 1919, Paiva Couceiro volta a invadir o norte do país, chegando ao Porto. Nesta cidade, a Junta Militar do Norte proclama a monarquia no dia 19 de Janeiro. A bandeira azul e branca é hasteada, após uma parada militar e canta-se o Hino da Carta Constitucional (O hino monárquico). Os chefes desta restauração são Luís de Magalhães, Sollari Allegro, Conde de Azevedo, Visconde do Banho e o Coronel Silva Ramos. A Junta Governativa do Reino, junto ao Governo Civil do Porto, ficou sob o comando de Henrique Mitchell de Paiva Couceiro. Quase todas as cidades do norte aderem à causa real, com a excepção de Chaves.
Mesmo na capital, a Junta Militar quer aderir ao movimento iniciado a norte, mas não se obtém unanimidade. Em Lisboa vai ter alguma importância o movimento “Integralismo Lusitano”. Alguns dos seus membros aderem à causa e resolvem tomar o posto TSF de Monsanto para estabelecer contacto com o norte e assim coordenar a luta. A revolta eclode no dia 22 de Janeiro. Sob o comando de Aires de Ornelas, um grupo de algumas dezenas de militares hasteia a bandeira monárquica no Forte de Monsanto. Os republicanos reagem com rapidez e eficácia. Graças ao seu número e apoio rapidamente conseguem a capitulação dos monárquicos. No entanto, a revolta no país só terminou no dia 13 de Fevereiro, com a entrada dos exércitos republicanos no Porto.
O país fica realmente dividido em dois: a norte do rio Vouga a bandeira de Portugal é azul e branca e o regime é monárquico. A sul a bandeira é verde-rubra e o regime é republicano. É o período da história conhecido com Monarquia do Norte ou o Reino da Traulitânia. Foram apenas vinte e cinco dias de restauro parcial da monarquia, mas repletos de violência e terror, sobretudo da parte dos monárquicos, que aproveitaram para “ajustes de contas” e retaliações pessoais. Este foi o motivo porque o período foi denominado de Reino da Traulitânia.
O regresso da bandeira azul e branca falhou principalmente por dois motivos: não contou com o apoio do rei D. Manuel II, que se encontrava exilado em Inglaterra, e não obteve o reconhecimento essencial de países como a Inglaterra e a Espanha.
Como consequência muitos oficiais foram afastados ou demitidos do exército, ficando Afonso Costa no domínio da política portuguesa.
Os defensores da monarquia foram os que mais sofreram com o rescaldo do golpe. Verificam-se divisões entre os apoiantes de D. Manuel II, muitos dos quais consideram que o movimento foram feito à revelia do rei. O “Integralismo Lusitano” enviou uma delegação à Inglaterra para analisar estratégias para a futura luta monárquica. Voltam desiludidos com a recepção do rei e juntam-se à causa do reconhecimento de D. Duarte Nuno de Bragança, neto de D. Miguel I, como legítimo herdeiro do trono português.
Nos mais de cem anos de República, foi a mais forte tentativa para restaurar a monarquia em Portugal.
Por: António José Ramos de Oliveira - Jornal da Guarda
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