O slogan America first (América em primeiro lugar) do Presidente
Trump originou uma
série de vídeos de vários países1 produzidos por estações de
televisão nacionais, apelando a que o seu respectivo país venha, então, em
segundo lugar após a América. Com efeito mais ou menos cómico – e alguns
conseguem ter piada em alguns pontos -, usam referências culturais e
folclóricas de forma auto-depreciativa e crítica esquerdista ao que pretendem
associar à acção governativa de Trump. É neste último ponto que o humor falha:
para um progressista conseguir criticar Trump tem que recorrer à caricatura
pura (o que não tem mal), já que, esmiuçando as propostas do Presidente, estas
em nada diferem no conteúdo proposto pelos progressistas fora do espectro de
guerrilhas sociais. Portanto, é uma sátira à forma, não ao conteúdo, daí serem
populares entre pessoas que vêem programas do tipo Got Talent.
O que pude reparar em todos os vídeos é que não há um único que, para
representar o seu país, recorra a imagens de mesquitas, de indivíduos barbudos
de origem árabe ou de mulheres vestidas como apicultoras. Pelo contrário, vi
referências a igrejas, ao carnaval, a nudistas, ao consumo de álcool, a
mulheres descritas como “boas”, a diversão, desporto, entretenimento,
homossexualidade… referências tipicamente europeias, oriundas da tradição
iluminista que tarda em chegar ao mundo árabe. Portanto, estes videos que
pretendem caricaturar Trump, limitam-se a caricaturar o multiculturalismo,
ideia de que fogem como um leproso foge da Isabel Moreira, e, em última
instância, à própria falta de valor cultural da população muçulmana para os
diferentes países.
Quod erat demonstrandum.
1 Vídeos também aqui,
no Observador, em português.
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