Carlos Lage, presidente da CCDR-N, rodeia-se de vários actores da região para propor soluções para o declínio da região
É urgente que a Região Norte reclame o avanço da regionalização a uma só voz. O apelo, em tom urgente, foi lançado pelo presidente da Associação Industrial do Minho, António Marques, para quem só com uma liderança regional forte se poderá catapultar o Norte para fora do declínio evidenciado nas contas regionais divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística INE) e que demonstram que, entre 2000 e 2004, a região regista o mais baixo PIB per capita do país.
Apesar de adivinhados por todos, os indicadores do INE lançaram o alarme entre os agentes políticos e económicos do Norte. Ontem, a eurodeputada Elisa Ferreira voltou a agitar a bandeira das regiões administrativas. Hoje, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Carlos Lage, vai falar em conferência de imprensa sobre a situação económica do Norte. No encontro, onde deverão ser apontados caminhos para sair da crise, Lage surgirá acompanhado pelo presidente do Conselho Regional do Norte, Francisco Araújo, pelo presidente do Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, Manuel Alegria, pelo reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Armando Mascarenhas Ferreira, entre outros agentes económicos.
É uma convergência de posições que parece ir ao encontro do apelo lançado pelo presidente da Associação Industrial do Minho que, ouvido pelo PÚBLICO, reclama alguém que, no Norte, assuma o contraponto ao que qualifica como "a macrocefalia inacreditável" do país. "Não vale a pena andar a fugir da regionalização. É urgente que haja alguém que tenha um pau na mão e que una os esforços para que o dinheiro venha para o Norte e seja aplicado em projectos de grande escala", sublinha.
Presidente da AIMinho diz-se indignado
António Marques diz-se indignado com "a passividade"dos agentes económicos e políticos da região. "Em Lisboa acontecem derrapagens todos os dias no metro. Quando no Porto acontece o mesmo, fala-se logo em nacionalizar o metro e não temos ninguém que faça nada porque, de facto, não há uma liderança".
"Moderadamente optimista" quanto à oportunidade oferecida pelas verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional, António Marques diz que o dinheiro terá de ser investido em projectos estruturais. "O Norte tem que ter pelo menos três pólos de competitividade e isso não pode ser feito em cada esquina. Não é possível que cada câmara ande a pedir a sua incubadora de empresas, o seu projectozinho de formação profissional...", insurge-se.
Os 2,7 mil milhões de euros destinados ao Norte, defende, terão que ser direccionados para projectos supramunicipais "devidamente estruturados". Exemplos? "Temos que nos virar para os clusters na área das nanotecnologias e na área da Saúde", aponta, congratulando-se com o facto de os sectores tradicionais da economia nortenha, como o calçado e os têxteis, estarem "a avançar e a inovar tecnologicamente", num esforço que "deve ser apoiado".
Por seu turno, o presidente da Associação Empresarial de Portugal, Ludgero Marques, preconiza a flexibilização das leis laborais como meio caminho andado para sair da crise. "As indústrias tradicionais lutam contra uma situação de concorrência que lhes é desfavorável, mas também contra uma situação de rigidez laboral que os impede de requalificar as suas empresas", afirma, sustentando que os entraves ao despedimento obstam à requalificação dos recursos humanos.
Para Rui Vaz, presidente do núcleo empresarial de Bragança (Nerba), se a análise do INE se cingisse à região de Trás-os-Montes e Alto Douro, "os resultados seriam bem mais graves". Numa região onde o tecido industrial é débil, o dirigente não acredita que a disponibilização de capitais de risco para a criação de novas empresas "resolva seja o que for". O dirigente recorda que o distrito de Bragança continua sem um quilómetro de auto-estrada: "Nós ainda falamos das acessibilidades, do isolamento, não conseguimos fixar população para que as empresas possam vender os seus produtos e devido à dificuldade de acesso ao resto do país é complicado colocar os produtos noutros mercados", explica.
Manuel Coutinho, presidente do núcleo empresarial de Vila Real - Nervir - acrescenta, como factor de estrangulamento, "a deficiente rede viária intermunicipal". Quando se fala da necessidade de criar níveis regionais de governação, Manuel Coutinho diz que o que se tem assistido na região é precisamente à concentração de serviços no litoral, com os órgãos de decisão "sempre sediados em Lisboa ou no Porto". "Esta retirada de serviços contribui para que seja cada vez mais difícil fixar a população e principalmente quadros qualificados", acrescenta.
Na região prevalecem as pequenas e médias empresas, de cariz familiar, "mas os serviços de apoio a estas empresas não estão cá", denuncia Manuel Coutinho. Por exemplo, no distrito de Vila Real não existe uma única delegação do IAPMEI e em toda a região não há uma única Loja do Cidadão.
Repartição de fundos do QREN criticada
O presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Sobrinho Teixeira, não acredita que o Quadro de Referencia Estratégica Nacional, QREN, possa corrigir esta situação. "Penso que todos concordamos com as linhas estratégicas definidas no QREN, mas que nenhum transmontano concorda com a divisão de fundos regional aí estabelecida". Dizendo que a região está cansada de estudos e planos de desenvolvimento que nunca passam do papel para o terreno, Sobrinho Teixeira diz temer que esta fique condenada, à ditadura dos números: "Tantos estudos, demonstrações e contas a contabilidade ainda vão ditar que os nordestinos não deviam existir", rematou.
É urgente que a Região Norte reclame o avanço da regionalização a uma só voz. O apelo, em tom urgente, foi lançado pelo presidente da Associação Industrial do Minho, António Marques, para quem só com uma liderança regional forte se poderá catapultar o Norte para fora do declínio evidenciado nas contas regionais divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística INE) e que demonstram que, entre 2000 e 2004, a região regista o mais baixo PIB per capita do país.
Apesar de adivinhados por todos, os indicadores do INE lançaram o alarme entre os agentes políticos e económicos do Norte. Ontem, a eurodeputada Elisa Ferreira voltou a agitar a bandeira das regiões administrativas. Hoje, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Carlos Lage, vai falar em conferência de imprensa sobre a situação económica do Norte. No encontro, onde deverão ser apontados caminhos para sair da crise, Lage surgirá acompanhado pelo presidente do Conselho Regional do Norte, Francisco Araújo, pelo presidente do Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, Manuel Alegria, pelo reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Armando Mascarenhas Ferreira, entre outros agentes económicos.
É uma convergência de posições que parece ir ao encontro do apelo lançado pelo presidente da Associação Industrial do Minho que, ouvido pelo PÚBLICO, reclama alguém que, no Norte, assuma o contraponto ao que qualifica como "a macrocefalia inacreditável" do país. "Não vale a pena andar a fugir da regionalização. É urgente que haja alguém que tenha um pau na mão e que una os esforços para que o dinheiro venha para o Norte e seja aplicado em projectos de grande escala", sublinha.
Presidente da AIMinho diz-se indignado
António Marques diz-se indignado com "a passividade"dos agentes económicos e políticos da região. "Em Lisboa acontecem derrapagens todos os dias no metro. Quando no Porto acontece o mesmo, fala-se logo em nacionalizar o metro e não temos ninguém que faça nada porque, de facto, não há uma liderança".
"Moderadamente optimista" quanto à oportunidade oferecida pelas verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional, António Marques diz que o dinheiro terá de ser investido em projectos estruturais. "O Norte tem que ter pelo menos três pólos de competitividade e isso não pode ser feito em cada esquina. Não é possível que cada câmara ande a pedir a sua incubadora de empresas, o seu projectozinho de formação profissional...", insurge-se.
Os 2,7 mil milhões de euros destinados ao Norte, defende, terão que ser direccionados para projectos supramunicipais "devidamente estruturados". Exemplos? "Temos que nos virar para os clusters na área das nanotecnologias e na área da Saúde", aponta, congratulando-se com o facto de os sectores tradicionais da economia nortenha, como o calçado e os têxteis, estarem "a avançar e a inovar tecnologicamente", num esforço que "deve ser apoiado".
Por seu turno, o presidente da Associação Empresarial de Portugal, Ludgero Marques, preconiza a flexibilização das leis laborais como meio caminho andado para sair da crise. "As indústrias tradicionais lutam contra uma situação de concorrência que lhes é desfavorável, mas também contra uma situação de rigidez laboral que os impede de requalificar as suas empresas", afirma, sustentando que os entraves ao despedimento obstam à requalificação dos recursos humanos.
Para Rui Vaz, presidente do núcleo empresarial de Bragança (Nerba), se a análise do INE se cingisse à região de Trás-os-Montes e Alto Douro, "os resultados seriam bem mais graves". Numa região onde o tecido industrial é débil, o dirigente não acredita que a disponibilização de capitais de risco para a criação de novas empresas "resolva seja o que for". O dirigente recorda que o distrito de Bragança continua sem um quilómetro de auto-estrada: "Nós ainda falamos das acessibilidades, do isolamento, não conseguimos fixar população para que as empresas possam vender os seus produtos e devido à dificuldade de acesso ao resto do país é complicado colocar os produtos noutros mercados", explica.
Manuel Coutinho, presidente do núcleo empresarial de Vila Real - Nervir - acrescenta, como factor de estrangulamento, "a deficiente rede viária intermunicipal". Quando se fala da necessidade de criar níveis regionais de governação, Manuel Coutinho diz que o que se tem assistido na região é precisamente à concentração de serviços no litoral, com os órgãos de decisão "sempre sediados em Lisboa ou no Porto". "Esta retirada de serviços contribui para que seja cada vez mais difícil fixar a população e principalmente quadros qualificados", acrescenta.
Na região prevalecem as pequenas e médias empresas, de cariz familiar, "mas os serviços de apoio a estas empresas não estão cá", denuncia Manuel Coutinho. Por exemplo, no distrito de Vila Real não existe uma única delegação do IAPMEI e em toda a região não há uma única Loja do Cidadão.
Repartição de fundos do QREN criticada
O presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Sobrinho Teixeira, não acredita que o Quadro de Referencia Estratégica Nacional, QREN, possa corrigir esta situação. "Penso que todos concordamos com as linhas estratégicas definidas no QREN, mas que nenhum transmontano concorda com a divisão de fundos regional aí estabelecida". Dizendo que a região está cansada de estudos e planos de desenvolvimento que nunca passam do papel para o terreno, Sobrinho Teixeira diz temer que esta fique condenada, à ditadura dos números: "Tantos estudos, demonstrações e contas a contabilidade ainda vão ditar que os nordestinos não deviam existir", rematou.
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