Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

As salas de espera

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A sala de espera é um conceito curioso. Porque é exactamente aquilo que o nome indica: a malta vai para uma sala e espera. Espera até que nos venham chamar. Não tem nada a ver com as salas de estar. Nas salas de estar podemos sempre optar por não estar, muito embora elas continuem a ser designadas por sala de estar. Nas salas de espera não há hipótese. Temos mesmo que esperar, caso contrário estas não fazem sentido. Nem sequer faz sentido nós esperarmos. É tudo muito esquisito, na realidade.
Como
a malta, de um modo geral, não tem grande paciência para esperar, as salas de espera são uma verdadeira seca para a maior parte de nós. Mas não para mim. Gosto das salas de espera. Gosto de passar lá eternidades. São uma verdadeira fonte de inspiração.
Se estou à espera de uma consulta médica na sala de espera costumo olhar para a malta que espera comigo e imaginar que tipo de doenças eles terão. A experiência é muito mais rica dependendo da especialidade médica em questão: se estou no dentista olho para o gajo à minha frente e imagino o estado putrefacto das suas gengivas. Se estou no dermatologista imagino que o tipo deve passar umas noites tramadas a coçar-se que bem um animal. Se estou no oftalmologista consigo topá-lo a fazer um esforço para ler, incompreensivelmente por falta de visão, um relatório que determina que ele e toda a sua equipa serão despedidos no próximo mês. Se estou no gastroentologista consigo revê-lo a peidar-se tão abundantemente que toda aquela produção de gases daria lucro à Gás de Portugal.
As salas de estar das empresas também são altamente produtivas: nelas vejo a secretária que come o patrão; o escriturário que tem fantasias sexuais com um marcador luminoso; o paquete rebarbado com a executiva; a executiva a querer dar para quem passa. Enfim, um verdadeiro ecossistema de javardice impronunciável.
Mas é nas salas de estar da Função Pública que a coisa atinge o nível do nirvana: não se passa nada. Nada mesmo. Até se tem alguma dificuldade em perceber se aqueles seres atrás do balcão têm funções respiratórias. É a sala de espera em todo o seu esplendor.

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