'Nortada' do Miguel Sousa Tavares...
Olhem só que futuro radioso: como não se quer ou não se tenta pôr as claques na ordem, propõe-se que no futuro se joguem os Benfica – FC Porto só com benfiquistas no estádio, os FC Porto – Sporting só com portistas e os Sporting – Benfica só com sportinguistas!
1 – A Policia Judiciária e os SIS confirmaram, esta semana, saber que por detrás das ameaças anónimas, via Internet, aos elementos do Gato Fedorento, está a extrema-direita extraparlamentar, ligada às claques de futebol. Esses militantes fascistas e xénofobos estão sediados em Lisboa. A direcção do Partido Nacionalista, contra cujo cartaz afixado no Marquês, em Lisboa, reagiram os Gato Fedorento, está sediada em Lisboa. Não é preciso ser bruxo para concluir de que claques de futebol ou clubes será essa gente – e não são seguramente dos Super Dragões.
Esta semana também, as claques inglesas do Manchester United e do Tottenham deixaram em Roma e em Sevilha marcas da sua passagem e habitual vandalismo. O mesmo se passa um pouco por todo o lado, incluindo a Argentina, de que Jorge Valdano nos deixou aqui há dias um testemunho impressionante do poder que as claques adquiriram em Buenos Aires, ao ponto de já serem detentoras de passes de jogadores.
Hoje, as claques são o alforge dos movimentos racistas de extrema-direita, cliques criminosos que começam por vender bilhetes para os jogos e acabam a vender droga e a prestar serviços de segurança privada e vendettas pessoais, a contrato. Começaram por desempenhar a função útil de apoiar as equipas e manter a animação nos estádios. Hoje, na melhor hipótese, são um factor de perturbação nos estádios e um gerador de permanente instabilidade e insegurança, mobilizando forças pessoais que teriam tarefas bem mais utéis a desempenhar; e, na pior das hipóteses, são escolas de crime organizado.
Toda a gente sabe disso. Toda a gente de bom-senso já percebeu que livrar o futebol das claques é, a prazo, uma questão de sobrevivência do próprio espectáculo. E toda a gente sabe que isso só se consegue se todos os clubes se unirem para definir uma politica e regras comuns nesta matéria. Mas, se casa um entrar no campo do a minha claque é civilizada, a tua é de selvagens, não se chegará a lado nenhum – o que, aliás, serve à perfeição os interesses de alguns dirigentes que usam as claques como guarda pretoriana.
Isto vem a propósito de mais uma infeliz dissertação do presidente do Benfica, que parece ter descoberto agora que a claque Super Dragões é formada por «vândalos» - como se as suas fossem formadas por anjinhos. Talvez convenha, então, recordar-lhe que as claques reconhecidas e apoiadas no Benfica:
- foram as únicas, até hoje, a tornarem-se responsáveis pela morte de um adepto adversário no Jamor, numa final da Taça, contra o Sporting;
- foram as únicas que se envolveram em confrontos violentos entre si;
- foram responsáveis por um dos mais negros espisódios da história do desporto português quando num banal jogo de hóquei na Luz, invadiram o autocarro onde estava a equipa do FC Porto, à porta do estádio, e armados de tacos de basebol e de outros utensílios desataram a agredir toda a gente, deixando um dos atletas em coma com fractura de crânio e às portas da morte – episódio este que passou sem castigo, interno ou externo, tendo mesmo o então presidente do Benfica, o exemplar Vale e Azevedo, declarado arrogantemente que o seu clube não pedia desculpas.
- que no tempo desse moderno Vale e Azevedo, o tão democrático Benfica fazia assembleias gerais onde quem estava contra era intimidade e ameaçado fisicamente por membros das claques ao serviço da direcção. Isto só para recordar porque parece que, neste país, a memória nasce sempre de véspera.
2 – Discute-se de quem foi a responsabilidade dos incidentes durante o recente Benfica – FC Porto. Pois é evidente que, primeiro que todos, a responsabilidade cabe a quem os causou – os elementos dos Super Dragões. Escamotear isto é estar de má fé à partida.
Mas também é evidente que as falhas de segurança, que tornaram prováveis e possíveis acidentes, devem-se ao Benfica e à PSP. Por mais que Luís Filipe Vieira, na sua habitual pose de quero, posso e mando, sou presidente do Benfica!, venha chamar de mentirosa à comissária da PSP, toda a gente percebeu que a responsabilidade da policia foi unicamente a de se ter curvado aos ditames do Benfica, em lugar de ter imposto o esquema de segurança que achava mais adequado.
Salta à vista que os elementos da claque portista nunca deveriam ter ficado no alto do estádio, por cima dos benfiquistas. Nem por cima, nem por baixo. Luís Filipe Vieira deveria meditar na razão pela qual desde que o foi inaugurado o Estádio do Dragão, nunca houve lá um incidente com adeptos adversários – e já por lá passaram alguns dos mais problemáticos da Europa. A razão é simples: porque em todos os jogos lhes está sempre reservado o mesmo sector, que representa um corte de alto a baixo na bancada, fácil de controlar pela segurança. Ao contrário do que sucede com os portistas na Luz, no Dragão as claques adversárias não são tratadas como gado, não têm de passar 4 mil por 3 torniquetes, não são forçados a entrar com 30/40 minutos de atraso (depois de terem pago 70 euros por um bilhete!) e são colocados onde não possam incomodar nem ser incomodados.
Tentar definir em conjunto regras de segurança adequadas, reciprocidade de tratamento, medidas de controle ou de banimento das claques – que interessam ou deveriam interessar a todos – é tarefa que deveria ocupar o presidente do maior clube portiguês. É lastimável que, em vez disso, ele prefira insultar a policia e os elementos da claque adversária, como se os seus fossem uns anjinhos; que proclame que quem manda é ele e que ameace não deixar entrar mais adeptos adversários na Luz, com o argumento notável de que se só houver benfiquistas no estádio, não haverá problemas. E o que diria ele se os benfiquistas fossem também banidos de todos os outros estádios do país?
Olhem só que futuro radioso: como não se quer ou não se tenta pôr as claques na ordem, propõe-se que no futuro se joguem os Benfica – FC Porto só com benfiquistas no estádio, os FC Porto – Sporting só com portistas e os Sporting – Benfica só com sportinguistas!
Por este caminho, chegará o dia em que as pessoas normais, os que gostam de ir ao estádio ver o futebol e não para insultar, atirar cadeiras, despejar a raiva e as frustrações de falhanços de que o futebol não tem culpa alguma, vão ter de virar-se para os dirigente e perguntar-lhes: “importam-se que nós deixemos de ir ao futebol ou tanto lhes faz?”
3 – Sexta-feira, Jorge Nuno Pinto da Costa vai anunciar que se recandidata para mais 3 anos à frente do FC Porto, disposto a cumprir assim 28 anos consecutivos de presidência. Por razões de ordem interna e não externa, por razões que nada têm que ver com o apito dourado mas, sim, com Renterias e Mareques, e por razões que oportunamente exporei, voto contra. E acho que, por maior que seja o reconhecimento e a gratidão, 25 anos chegam. No futebol e em tudo o resto.
Olhem só que futuro radioso: como não se quer ou não se tenta pôr as claques na ordem, propõe-se que no futuro se joguem os Benfica – FC Porto só com benfiquistas no estádio, os FC Porto – Sporting só com portistas e os Sporting – Benfica só com sportinguistas!
1 – A Policia Judiciária e os SIS confirmaram, esta semana, saber que por detrás das ameaças anónimas, via Internet, aos elementos do Gato Fedorento, está a extrema-direita extraparlamentar, ligada às claques de futebol. Esses militantes fascistas e xénofobos estão sediados em Lisboa. A direcção do Partido Nacionalista, contra cujo cartaz afixado no Marquês, em Lisboa, reagiram os Gato Fedorento, está sediada em Lisboa. Não é preciso ser bruxo para concluir de que claques de futebol ou clubes será essa gente – e não são seguramente dos Super Dragões.
Esta semana também, as claques inglesas do Manchester United e do Tottenham deixaram em Roma e em Sevilha marcas da sua passagem e habitual vandalismo. O mesmo se passa um pouco por todo o lado, incluindo a Argentina, de que Jorge Valdano nos deixou aqui há dias um testemunho impressionante do poder que as claques adquiriram em Buenos Aires, ao ponto de já serem detentoras de passes de jogadores.
Hoje, as claques são o alforge dos movimentos racistas de extrema-direita, cliques criminosos que começam por vender bilhetes para os jogos e acabam a vender droga e a prestar serviços de segurança privada e vendettas pessoais, a contrato. Começaram por desempenhar a função útil de apoiar as equipas e manter a animação nos estádios. Hoje, na melhor hipótese, são um factor de perturbação nos estádios e um gerador de permanente instabilidade e insegurança, mobilizando forças pessoais que teriam tarefas bem mais utéis a desempenhar; e, na pior das hipóteses, são escolas de crime organizado.
Toda a gente sabe disso. Toda a gente de bom-senso já percebeu que livrar o futebol das claques é, a prazo, uma questão de sobrevivência do próprio espectáculo. E toda a gente sabe que isso só se consegue se todos os clubes se unirem para definir uma politica e regras comuns nesta matéria. Mas, se casa um entrar no campo do a minha claque é civilizada, a tua é de selvagens, não se chegará a lado nenhum – o que, aliás, serve à perfeição os interesses de alguns dirigentes que usam as claques como guarda pretoriana.
Isto vem a propósito de mais uma infeliz dissertação do presidente do Benfica, que parece ter descoberto agora que a claque Super Dragões é formada por «vândalos» - como se as suas fossem formadas por anjinhos. Talvez convenha, então, recordar-lhe que as claques reconhecidas e apoiadas no Benfica:
- foram as únicas, até hoje, a tornarem-se responsáveis pela morte de um adepto adversário no Jamor, numa final da Taça, contra o Sporting;
- foram as únicas que se envolveram em confrontos violentos entre si;
- foram responsáveis por um dos mais negros espisódios da história do desporto português quando num banal jogo de hóquei na Luz, invadiram o autocarro onde estava a equipa do FC Porto, à porta do estádio, e armados de tacos de basebol e de outros utensílios desataram a agredir toda a gente, deixando um dos atletas em coma com fractura de crânio e às portas da morte – episódio este que passou sem castigo, interno ou externo, tendo mesmo o então presidente do Benfica, o exemplar Vale e Azevedo, declarado arrogantemente que o seu clube não pedia desculpas.
- que no tempo desse moderno Vale e Azevedo, o tão democrático Benfica fazia assembleias gerais onde quem estava contra era intimidade e ameaçado fisicamente por membros das claques ao serviço da direcção. Isto só para recordar porque parece que, neste país, a memória nasce sempre de véspera.
2 – Discute-se de quem foi a responsabilidade dos incidentes durante o recente Benfica – FC Porto. Pois é evidente que, primeiro que todos, a responsabilidade cabe a quem os causou – os elementos dos Super Dragões. Escamotear isto é estar de má fé à partida.
Mas também é evidente que as falhas de segurança, que tornaram prováveis e possíveis acidentes, devem-se ao Benfica e à PSP. Por mais que Luís Filipe Vieira, na sua habitual pose de quero, posso e mando, sou presidente do Benfica!, venha chamar de mentirosa à comissária da PSP, toda a gente percebeu que a responsabilidade da policia foi unicamente a de se ter curvado aos ditames do Benfica, em lugar de ter imposto o esquema de segurança que achava mais adequado.
Salta à vista que os elementos da claque portista nunca deveriam ter ficado no alto do estádio, por cima dos benfiquistas. Nem por cima, nem por baixo. Luís Filipe Vieira deveria meditar na razão pela qual desde que o foi inaugurado o Estádio do Dragão, nunca houve lá um incidente com adeptos adversários – e já por lá passaram alguns dos mais problemáticos da Europa. A razão é simples: porque em todos os jogos lhes está sempre reservado o mesmo sector, que representa um corte de alto a baixo na bancada, fácil de controlar pela segurança. Ao contrário do que sucede com os portistas na Luz, no Dragão as claques adversárias não são tratadas como gado, não têm de passar 4 mil por 3 torniquetes, não são forçados a entrar com 30/40 minutos de atraso (depois de terem pago 70 euros por um bilhete!) e são colocados onde não possam incomodar nem ser incomodados.
Tentar definir em conjunto regras de segurança adequadas, reciprocidade de tratamento, medidas de controle ou de banimento das claques – que interessam ou deveriam interessar a todos – é tarefa que deveria ocupar o presidente do maior clube portiguês. É lastimável que, em vez disso, ele prefira insultar a policia e os elementos da claque adversária, como se os seus fossem uns anjinhos; que proclame que quem manda é ele e que ameace não deixar entrar mais adeptos adversários na Luz, com o argumento notável de que se só houver benfiquistas no estádio, não haverá problemas. E o que diria ele se os benfiquistas fossem também banidos de todos os outros estádios do país?
Olhem só que futuro radioso: como não se quer ou não se tenta pôr as claques na ordem, propõe-se que no futuro se joguem os Benfica – FC Porto só com benfiquistas no estádio, os FC Porto – Sporting só com portistas e os Sporting – Benfica só com sportinguistas!
Por este caminho, chegará o dia em que as pessoas normais, os que gostam de ir ao estádio ver o futebol e não para insultar, atirar cadeiras, despejar a raiva e as frustrações de falhanços de que o futebol não tem culpa alguma, vão ter de virar-se para os dirigente e perguntar-lhes: “importam-se que nós deixemos de ir ao futebol ou tanto lhes faz?”
3 – Sexta-feira, Jorge Nuno Pinto da Costa vai anunciar que se recandidata para mais 3 anos à frente do FC Porto, disposto a cumprir assim 28 anos consecutivos de presidência. Por razões de ordem interna e não externa, por razões que nada têm que ver com o apito dourado mas, sim, com Renterias e Mareques, e por razões que oportunamente exporei, voto contra. E acho que, por maior que seja o reconhecimento e a gratidão, 25 anos chegam. No futebol e em tudo o resto.
# in Jornal “A BOLA”, 2007.04.10
PS – Reparem bem que 93% (1124 palavras) desta crónica aborda os incidentes do último Benfica – FC Porto, as suas consequências e as eventuais medidas preventivas a tomar no futuro, tendo os restantes 7% (85 palavras) incidido sobre a potencial recandidatura do nosso Presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa, a mais 3 anos de presidência do FC Porto. Agora, reparem bem na 1ª página, lá bem no cantinho superior direito com a chamada de atenção para o tema da crónica: “Voto contra Pinto da Costa”… que dizem?
PS2 - Já agora um recado para o Miguel:
“A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o machado é de madeira..."
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