Por Jorge Vilas, via JN
"Cada um prefere ser dono de uma coisa pequenina do que partilhar a capacidade de poder e liderança para algo muito melhor" - disse o reitor José Marques dos Santos quando a jornalista Carla Soares lhe perguntou, numa entrevista, que razões levavam políticos, empresários e outras personalidades nortenhos a não cooperar, fora dos quadros legislativos, no combate à queda de importância económica e social da Região Norte. Por seu turno, o arquitecto Gomes Fernandes, em crónica neste "Passeio Público", defendeu que "o que se exige ao Governo e à sua maioria política não é inventar soluções novas ou distrair o assunto com "fait divers" laterais, mas sim ter coragem e assumir a responsabilidade de fazer novos contratos políticos e de cidadania com os autarcas da Área Metropolitana do Porto, independentemente da maioria conjuntural que, em dado momento, a constitui".
José Marques dos Santos e Gomes Fernandes têm carradas de razão. O primeiro colocou o dedo na ferida abundam na Região Norte pequenos tiranetes que preferem olhar para o umbigo do que para mais alto e mais além, isto é, tratar do seu "quintal de interesses" sejam eles políticos ou económicos, do que participar em algo mais grandioso, que vá para lá da sua porta. Muitos deles dizem-se capitães da indústria porque, em dado momento, captaram a possibilidade de fazer muito dinheiro a montar uma fábrica mal amanhada, sem perspectivas de futuro e que caiu à primeira rabanada de vento, vento chinês, por exemplo...
De facto, os tempos dos "senhores da indústria", como o Conde de Vizela e Manuel Gonçalves, já não moram neste mundo e os que cá ficaram para os substituir são, na sua esmagadora maioria, de fraca qualidade, preferindo viver longe do sector industrial e vegetar à sombra da banca ou, então, da especulação imobiliária. Fechada a fábrica, com os trabalhadores na rua a reclamar o pagamento de diversos meses de ordenado e outras regalias, é vê- -los nas câmara municipais, a pedir, muito diligentemente, uma "mudança de destino" para as suas instalações, ou seja, uma autorização para a construção de uma urbanização com muitas habitações de preferência.
Já Gomes Fernandes toca noutro problema que é o da representação política e do seu bom ou mau uso. A estratégia dos partidos - e neste caso concreto aqueles que ocupam o arco do poder, ou seja, o PS e o PSD - tem sempre um comportamento dúplice na matéria. Na oposição, fazem discursos encomiásticos quanto às vantagem da regionalização e da descentralização administrativa; no poder, assobiam para o ar como se nada fosse com eles ou então fazem propostas sem pés nem cabeça. Basta atentar no que sucedeu com o Projecto Relvas (PSD), que andou pelo país a semear novas áreas metropolitanas ou, então, a alargar as existentes com mais municípios sem, no entanto, lhes cometer novas competências e recursos financeiros para poderem gerir os territórios que lhes coube em sorte. Basta olhar para o comportamento do PS na Área Metropolitana do Porto, onde se remeteu à condição de recoveiro dos recados do Governo, sem brio e sem ideias.
O comportamento deste último no Metro do Porto foi exemplar. O ministro Mário Lino usou a contestação da Faculdade de Medicina na passagem do Eurotram à porta do hospital para liquidar o 'terminus' da Linha Amarela; depois, e a pretexto de uma alegada ineficiência técnico-financeira, conseguiu remodelar os órgãos gestores da empresa. O PS/Porto a tudo isto assistiu e quando falou foi para dizer amém ao Governo, esquecendo-se de que metro foi a bandeira do partido. Entretanto, Lino foi à inauguração de apenas dois quilómetros do Metro a Sul do Tejo e teceu loas ao projecto enaltecendo a sua gestão. Oh!, senhor ministro, isso não é um metro, é um centímetro ...
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