Polícias são avaliados por multas
Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia da PSP (ASPP), o maior e mais moderado desta força de segurança, surpreende com críticas duras ao Governo e avisa que há oficiais a avaliar os polícias pelo número de multas e detenções que fazem.
Que polícia criou este Governo? Primeiro começou por nos tirar direitos fundamentais, como a assistência na doença, e obrigar-nos a pagar por um serviço pior. Depois envelheceu a polícia, aumentando a idade de reforma. Em 2004 a média de idade era 38,5 anos, agora vai nos 40. O mesmo partido que, com António Guterres, apostou forte na imagem e credibilidade da polícia agora faz o contrário. Para agravar tudo, prepara uma série de legislação, como o Estatuto, o Regulamento de Disciplina, entre outros, que mostram claramente a intenção de transformar a polícia numa força servilista, apostada em agradar às hierarquias, mesmo que em detrimento da nossa principal missão, que é a prevenção criminal. Ou seja, em duas palavras, o cenário é negro.
Pode concretizar esse retrato?Há uma situação que está a preocupar-nos especialmente. Neste momento há oficiais a avaliar os polícias pelo número de multas ou detenções que fazem. Quanto mais multas melhor se é avaliado e mais se ganha. Isto é muito grave. A principal missão da polícia não é a prevenção? Afinal o melhor polícia é aquele que faz caça à multa durante uma hora e passa o resto do turno no café, ou aquele que está sempre presente e tem a sua área pacificada? Fazer detenções é fácil. Mas o que se ganha a longo prazo com isso? Só se for para agradar aos comandantes e apresentar estatísticas. Infelizmente, prevejo que qualquer avaliação que venha a ser feita dará sempre muita importância ao cumprimento de directivas. Os polícias vão preocupar-se mais com a progressão na carreira que em fazer um bom trabalho na segurança dos cidadãos.Mas todas a restruturações que foram feitas não melhoraram a segurança?Foi um passo positivo, principalmente porque agora cada força de segurança sabe quais são as suas fronteiras territoriais. Mas não se podia ter feito isto sem saber se as polícias tinham capacidade para ver os seus territórios aumentados. Em Lisboa e Viana do Castelo por exemplo, as áreas duplicaram e o número de homens ficou o mesmo. Tudo é baseado num conceito economicista. Planeia-se a segurança a quatro anos e isso é ridículo, para não dizer perigoso, numa perspectiva de segurança interna.O Governo alega que não será por falta de dinheiro que a segurança será pior. O orçamento da PSP vai ser maior em 2009?É verdade. E mentira ao mesmo tempo. Dos 53 milhões de euros, 25 vão directamente para a Caixa Geral de Aposentações, que agora a polícia passou a pagar; 15 milhões são para pagar aos 1070 novos agentes que começaram a fazer o curso. Sobra-nos 13 milhões. Para quem promete grandes reformas e mudanças... Este orçamento, como aconteceu com o deste ano, deve chegar para seis meses. Desde Julho que não são pagas ajudas de custo. Quando vamos para fora, dormidas e alimentação são por nossa conta. Este orçamento vai deixar a polícia de rastos. É catastrófico.E o plano de 400 milhões de euros para equipamento e instalações?Até agora só vimos as 5000 pistolas. A Unidade Especial da Polícia e alguns elementos da investigação criminal já as têm , mas falta o resto do efectivo, 17 000. De resto, continuamos sem coletes antibala para todos,até na UEP. Quando há operações de maior envergadura já se sabe que há alguém que fica atrás, pois não têm colete.
Mas este programa é até 2012... não se pode ter tudo de uma vez...O problema é que já estamos há muitos anos a ouvir promessas e os problemas vão passando de Governo para Governo. E esse plano para equipamento e instalações tem um grande problema: a verba que lhe está dirigida não existe. Será obtida com futuras alienações de património, o qual ninguém sabe qual é. Como é que se pode fazer planos com base em receitas que ainda não foram concretizadas? É mesmo brincar com a segurança pública e com os polícias.Afinal há mais ou menos polícias que no início da legislatura?Na PSP há mais. Mas mais velhos. À conta de terem sido impedidos de ir para a reforma. E eu pergunto: as pessoas vêem polícias na rua?
DIÁRIO DE NOTÍCIAS 08.12.2008
2 comentários:
Avaliar policias pelo nº de multas que fazem e pelas detenções que efectuam? Pois claro. Haverias de ser avaliados por que parâmetros? A limpeza da farda? O nº de velhinhas que ajudam a atravessar a rua?
Num país com o nível de sinistralidade como o nosso e com o pouco civismo que mostramos na condução, cada vez me admira mais que haja pessoas a reclamar dos rigores da fiscalização.
PQ
http://pensericando.blogspot.com/
Em primeiro lugar quero afirmar que as forças policiais são demasiado esquecidas pelo poder. Afinal de contas são esses homens e mulheres que fazem respeitar a lei. Pena é que as leis feitas pelos políticos para proteger .. os políticos sejam constantemente usadas para proteger os ... criminosos. Os agentes da lei recebem mal, não têm aumentos, pagam as fardas, colocam o corpo ao manifesto, dedicam-se a apanhar os criminosos e depois vêm-nos sair em liberdade e ainda são gozados.... Isto é que está mal. Quanto à forma de avaliação, essa devia ser pela eficácia das suas acções, devia ser pela manutenção da lei e eliminação do crime. Isso sim.
Assim, a polícia dedica-se à multa! No resto são desautorizados pelo poder judicial e político. Portanto o problema não está na polícia: o problema são os políticos e os juízes que aplicam a lei sempre em benefício daqueles que deveriam ser penalizados.
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