"Os portugueses já suspeitavam de que os seus bolsos tendem a ficar vazios cada vez mais cedo durante o mês. A suspeita foi confirmada pelo rigoroso Instituto Nacional de Estatística (INE): Portugal é, de entre os 15 países da Zona Euro, aquele que tem menos poder de compra. Isto é: aquele em que os seus cidadãos têm menos dinheiro para comprar um determinado cabaz de produtos. Os dados são do ano passado. Os deste ano, quando se conhecerem, hão-de revelar coisa muito parecida. Mais e pior: nos dois anos imediatamente anteriores (2006 e 2005), já se tinha registado um decréscimo no poder de compra, pelo que, quando nos comparamos com a média da União Europeia, vamos no terceiro ano consecutivo de queda. Em boa verdade, não estamos sozinhos na desgraça: Malta, Eslovénia, Chipre e Grécia estão piores do que nós. O que sempre nos alivia a alma.
Por que razão é isto importante? Porque mostra como os consumidores têm sofrido nos últimos anos. E porque ajuda-nos a perceber que o sofrimento está para durar. O ano que bate à porta será de grandes dificuldades - e os portugueses chegam a ele basicamente exangues. Ao assumir, anteontem, que o défice das contas públicas pode chegar, em 2009, aos 3%, o ministro das Finanças quis apenas dizer que os gastos que o Estado será obrigado a fazer para amenizar os efeitos da crise são tremendos. Da mesma forma, o facto de os líderes europeus se terem posto rapidamente de acordo quanto à necessidade de relançar a economia europeia, deitando a mão a 200 mil milhões de euros (1,5 por cento de toda a riqueza produzida pelos 27 estados membros), é mais um sinal do drama em que vivemos.
Verdade que a descida dos juros e dos combustíveis ajuda a aliviar os orçamentos familiares, sobretudo daqueles, como os que trabalham na Função Pública, que não têm a ameaça do desemprego a roubar-lhes o sono. O problema é que a percepção que os portugueses têm do que aí vem é terrível - e por isso toda a gente, consumidores e empresas, encolhe os seus níveis de consumo e de investimento. O estado letárgico da economia pode, por isso, agravar-se. E, agravando-se, agravam-se as consequências para todos. Este é o círculo vicioso em que estamos metidos e com que teremos que nos confrontar, ainda em maior grau, no próximo ano.
P. S. : O presidente da Associação Industrial do Minho, António Marques, falava há dias do risco de colapso social no Norte, causado pelas dificuldades económicas. Infelizmente, não é nenhum exagero: como sempre, as consequências são piores para os mais desprotegidos."
Paulo Ferreira
Por que razão é isto importante? Porque mostra como os consumidores têm sofrido nos últimos anos. E porque ajuda-nos a perceber que o sofrimento está para durar. O ano que bate à porta será de grandes dificuldades - e os portugueses chegam a ele basicamente exangues. Ao assumir, anteontem, que o défice das contas públicas pode chegar, em 2009, aos 3%, o ministro das Finanças quis apenas dizer que os gastos que o Estado será obrigado a fazer para amenizar os efeitos da crise são tremendos. Da mesma forma, o facto de os líderes europeus se terem posto rapidamente de acordo quanto à necessidade de relançar a economia europeia, deitando a mão a 200 mil milhões de euros (1,5 por cento de toda a riqueza produzida pelos 27 estados membros), é mais um sinal do drama em que vivemos.
Verdade que a descida dos juros e dos combustíveis ajuda a aliviar os orçamentos familiares, sobretudo daqueles, como os que trabalham na Função Pública, que não têm a ameaça do desemprego a roubar-lhes o sono. O problema é que a percepção que os portugueses têm do que aí vem é terrível - e por isso toda a gente, consumidores e empresas, encolhe os seus níveis de consumo e de investimento. O estado letárgico da economia pode, por isso, agravar-se. E, agravando-se, agravam-se as consequências para todos. Este é o círculo vicioso em que estamos metidos e com que teremos que nos confrontar, ainda em maior grau, no próximo ano.
P. S. : O presidente da Associação Industrial do Minho, António Marques, falava há dias do risco de colapso social no Norte, causado pelas dificuldades económicas. Infelizmente, não é nenhum exagero: como sempre, as consequências são piores para os mais desprotegidos."
Paulo Ferreira
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