"Imagine-se que um polícia grego matou a tiro o skinhead que o apedrejara. Imagine-se também que, manipulados por partidos de extrema-direita e líderes populistas, milhares de "cabeças rapadas" vingavam a morte do companheiro e espalhavam violência por Atenas, destruindo símbolos do "sistema" capitalista que abominam e a propriedade de quem calhava. Imagine-se ainda que a raiva se alastrava a mais cidades gregas e europeias. E imagine-se o que diriam os "media" em peso. Provavelmente, diriam que, ante a complacência das autoridades, as democracias estavam ameaçadas pelo ódio. Com razão, inúmeros comentadores preocupados regressariam aos anos 1920 e invocariam os métodos do fascismo italiano e do nazismo alemão, que se afirmaram igualmente pela "rua" e pela desordem. Uma ou duas manchetes lúgubres anunciariam a nova idade das trevas.
No que respeita à realidade, não é preciso imaginar muito. O exercício é meramente lexical: basta trocar "skinhead" por "anarquista", "populistas" por "sindicalistas", "extrema-direita" por "extrema-esquerda", "cabeças rapadas" por "comunistas", "anos 1920" por "Maio de 1968", "fascismo" por "leninismo", etc. Como as chamas em Atenas, "capitalismo" e "ódio" nem necessitariam de alterações. O esforço de imaginação é requerido somente por aquele género de jornalismo, português e estrangeiro, que agora se contorce a fim de suavizar, explicar e, vamos lá, legitimar a selvajaria em curso na Grécia. Dois ou três "telejornais" chegam para captar o tom "romântico" com que se cobrem (nos dois sentidos) as atrocidades que afinal não são atrocidades, mas uma "explosão social", fruto do descontentamento dos "estudantes", coitadinhos, face ao (eleito) governo local, à crise económica e à "falta de alternativas".
Se o caos grego tem alguma utilidade, não é a de escusadamente nos lembrar a essência totalitária e criminosa de ambos os radicalismos ideológicos: é a de nos avisar contra os aparentes modelos de isenção que tremem de medo perante um e de excitação perante o outro."
Alberto Gonçalves
No que respeita à realidade, não é preciso imaginar muito. O exercício é meramente lexical: basta trocar "skinhead" por "anarquista", "populistas" por "sindicalistas", "extrema-direita" por "extrema-esquerda", "cabeças rapadas" por "comunistas", "anos 1920" por "Maio de 1968", "fascismo" por "leninismo", etc. Como as chamas em Atenas, "capitalismo" e "ódio" nem necessitariam de alterações. O esforço de imaginação é requerido somente por aquele género de jornalismo, português e estrangeiro, que agora se contorce a fim de suavizar, explicar e, vamos lá, legitimar a selvajaria em curso na Grécia. Dois ou três "telejornais" chegam para captar o tom "romântico" com que se cobrem (nos dois sentidos) as atrocidades que afinal não são atrocidades, mas uma "explosão social", fruto do descontentamento dos "estudantes", coitadinhos, face ao (eleito) governo local, à crise económica e à "falta de alternativas".
Se o caos grego tem alguma utilidade, não é a de escusadamente nos lembrar a essência totalitária e criminosa de ambos os radicalismos ideológicos: é a de nos avisar contra os aparentes modelos de isenção que tremem de medo perante um e de excitação perante o outro."
Alberto Gonçalves
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