O Prémio Princípe das Astúrias foi atribuído a Amos Oz. Este israelita é um homem notável que a partir da sua casa no Negev transforma verbos e livros em sementes de paz. Amos Oz diz-nos que a tragédia do conflito-israelo árabe assenta numa luta entre duas partes que têm razão. Na Europa, em algumas margens intelectuais, já seria um grande avanço reconhecer pelo menos isso.
Outras vezes, Amos Oz recorda-nos que na Europa dos seus pais, quando os anjos negros nazis começaram a ocupar as ruas e as vidas e as esperanças, podia ler-se nos muros das principais cidades: «Judeus para a Palestina» Nesses muros, hoje mesmo, exige-se que os judeus saiam da Palestina. A história é uma bastarda e Amos Oz nasceu em Jerusalém no mesmo ano em que as tropas de Hitler invadiram a Polónia.
Talvez por isso, Amos Oz seja um israelita pela paz sem fazer do pacifismo um sistema de crenças e tenha apoiado a guerra contra o Hezbollah quando o Partido de Deus, de um Deus sem opção, fez a guerra contra Israel. Amos Oz é um escritor que tem em si algo de radioso e necessariamente realista, quase irresistivelmente cínico, tentando ensinar aos seus amigos europeus rousseaunianos que não basta juntar israelitas e palestinianos numa estância suíça com um bom café para fazer a paz.
Judeus e palestinianos não têm de estar juntos num palco do Live Aid, não têm de trocar salamaleques no mais bonacheirão dos continentes, mas sim definirem fronteiras, montarem todas aquelas cercas que fazem os bons vizinhos e aceitaram-se mutuamente, mais ou menos dolorosamente, enquanto Estados soberanos, independentes, pacíficos. Ponto. Isso pode demorar décadas, bem sei, mas com homens como Amos Oz o tempo passa subitamente mais rápido e o vislumbre do que poderia ser está logo ali, numa casa isolada do Negev onde todas as coisas fazem mais sentido.
(enviado pelo meu amigo Stein, o luso-alemão mais israelita que conheço)
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