Só agora dei pela polémica que vai nas redes sociais sobre as declarações (desastradas na forma, apesar de absolutamente verdadeiras no conteúdo) de Isabel Jonet num programa de televisão. Li as mais descabeladas, maldosas e delirantes teses sobre a personalidade e as motivações da pessoa que, até agora, era aclamada publicamente pela obra a que há vinte anos dá a quase exclusividade do seu tempo. E a polémica só demonstra que a miséria reinante neste país é ainda mais moral do que física. Há fome, sim, infelizmente cada vez mais. Mas, que se lixe. Abaixo a Isabel Jonet! Abaixo o Banco Alimentar! Afinal, que importância tem denegrir uma instituição que alimenta eficazmente, há décadas, pessoas com carências e não tem mãos a medir? O que é isso comparado com o prazer de podermos apontar o dedo acusador a quem faz o que não somos capazes ou não estamos dispostos a fazer? É sempre tão mais fácil criticar. Difícil, difícil mesmo, é arregaçar as mangas e dar o corpo ao manifesto. Ainda mais quando isso implica dar também a cara, arriscando uma exposição sem rede e a possibilidade de se ser desastrado ou infeliz com as palavras, e, pior ainda, a probabilidade de se ser crucificado em praça pública. Continuamos a preferir que nos digam só o que queremos ouvir, que nos enrolem com uma pirotecnia dialética devidamente inscrita no que é social e politicamente correcto. Francamente, envergonha-me muito esta pobreza farisaica que nos faz atirar pedras na primeira oportunidade de vingança, babando-nos de gozo redobrado quando elas atingem quem nos incomoda porque nos pôs um espelho à frente.
Ana Vidal
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