Marcelo Rebelo de Sousa celebrou, por estes dias de Março, dois anos de mandato, com níveis invejáveis de popularidade. Mas, não tendo resultado dessa atividade nada de significativamente positivo para o quotidiano dos cidadãos, toda esta popularidade é um desperdício.
O presidente comenta todos os assuntos, importantes ou banais. Desta forma, transforma os assuntos banais em relevantes e vice-versa. Os temas de facto importantes ficam diluídos na voracidade noticiosa. Assim, temas como a limpeza das florestas, ou o excesso de IVA na eletricidade (23%), podem ser preteridos, em termos políticos e noticiosos, pela inauguração duma exposição de um pintor local de Cascais, tão-só porque o artista convenceu Marcelo a marcar presença no evento. E assim, a falta de manutenção de pontes e vias-férreas ou o desvio de centenas de milhões de fundos públicos da Misericórdia para o Montepio - todas estas situações calamitosas ficam reduzidas à condição de episódios quotidianos com efémera vida mediática.
Marcelo, para além da condição de comentador permanente, assume ainda a condição de juiz que a todos absolve. Quando os cidadãos se revoltam porque morrem, estupidamente, mais de cem pessoas em incêndios evitáveis, Marcelo anuncia que "foi feito tudo o que se podia", abraça e consola as famílias das vítimas, apelando à solidariedade dos portugueses. Assim, anestesia a opinião pública, previne quaisquer reivindicações de justiça, evita tumultos e desculpa os verdadeiros responsáveis pelas tragédias. Se roubam armas no paiol de Tancos, Marcelo anuncia, mais uma vez, que "se fez tudo o que se podia", prevenindo críticas mais ferozes.
Quando veta - e bem - a lei de financiamento partidário que permite transformar partidos em máquinas de lavar dinheiro, Marcelo é contrariado pelos partidos e, incompreensivelmente, cede. Pior, é ele próprio quem vem depois justificar a lei que havia vetado. Esta atitude do presidente - que tudo desculpabiliza a um Estado de que é primeiro responsável - coloca-o na posição de anestesista-mor da sociedade.
Apesar de tudo, Marcelo vê aumentar a sua popularidade, graças à sua hiperexposição televisiva. Talvez assim continue, enquanto os portugueses preferirem políticos que os consolem na desgraça, que assumem como uma qualquer fatalidade; em vez de escolherem representantes que de facto lhes resolvam os problemas.
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