(*) por Jorge Maia, in O JOGO
Pelos vistos, houve quem tivesse ficado surpreendido e até chocado com alguns dos cânticos com que os jogadores do FC Porto festejaram a conquista de mais um título, na noite de sábado. Houve inclusivamente quem tenha escrito que "não eram conhecidas semelhantes manifestações públicas por parte de futebolistas profissionais", o que teria justificado alguns desmaios entre as donzelas mais sensíveis. Gente dura de ouvido ou fraca de memória. Acontece que há coisa de um ano, mais dia menos dia, enquanto o Benfica festejava o regresso ao título passeando a sua justa alegria de autocarro, Nuno Gomes e Simão Sabrosa (pelo menos eles, mas é provável que as imagens revelem outros cantores) acompanharam os seus adeptos numa série de cânticos insultuosos para o FC Porto e, em particular, para o seu presidente, Pinto da Costa. Na altura, nenhum deles mereceu honra de primeira página. Nenhum deles justificou a laboriosa escrita de um editorial ofendido pela donzela de serviço. Nenhum deles viu o seu profissionalismo questionado. Eram todos bons rapazes, cheios de boas intenções e, provavelmente, levados pela emoção de terem sido campeões depois de uma década de jejum forçado. Percebo que tenham merecido a condescendência com que foram tratados e ignorados. Por outro lado, duvido seriamente da virgindade de certas donzelas que se ofendem com determinados insultos e ignoram outros com sorrisos cúmplices. Ou nos ofendemos com os insultos todos, e temos a obrigação moral de lhes dar o mesmo destaque, ou só nos ofendemos com alguns, e assumimos que somos parciais. Por outras palavras, como dizia o meu professor de religião e moral, ou há moralidade ou comem todos, porque isto de tratar uns como filhos e outros como enteados é a melhor maneira de exacerbar rivalidades.
0 comentários:
Enviar um comentário