Crescimento, por Jorge Maia, in O JOGO

Há pelo menos 30 milhões de bons motivos para Pepe estar satisfeito com a anunciada transferência para o Real Madrid. Em boa verdade, pelas minhas contas, há pelo menos 30 milhões e uns bons motivos. Bem sei que pode parecer picuinhas falar de apenas um quando estão em causa 30 milhões, e também tenho a certeza que para qualquer um de nós, comuns mortais, os 30 milhões chegavam muito bem, mas sempre me disseram que no poupar está o ganho. Ora, o tal motivo de que falo não se pode depositar no banco como os outros, mas também dá crédito. Outro tipo de crédito. O crédito que Pepe finalmente vai merecer. Tal como aconteceu com muitos outros jogadores, treinadores e até cinesiterapeutas - aprendi a palavra ontem, mas ainda não sei bem o que significa - antes dele, Pepe está a caminho de se tornar, finalmente, consensual. Bastar-lhe-á sair do FC Porto para se livrar das paixões clubísticas e da cegueira histérica que impede o reconhecimento nacional a quem equipa de azul e branco e para que, finalmente, toda a gente possa admitir que, de facto, é um dos melhores do Mundo, tal como aconteceu com José Mourinho, para citar o exemplo mais conhecido. E que, sim, que já que está disposto a isso, talvez deva mesmo jogar na Selecção Nacional ao lado de Ricardo Carvalho, outro central transferido pelo FC Porto por 30 milhões de euros. Que diabos, a jogar no Real Madrid talvez até Dunga, o seleccionador brasileiro e um dos meus sete anões favoritos, finalmente perceba o que o Brasil tem andado a perder, tal como aconteceu há alguns anos com Deco. Mas, mesmo depois de tudo isso, Pepe vai saber que, como dezenas de jogadores, técnicos e até cinesiterapeutas antes dele, que entrou pequenino no FC Porto e saiu de lá enorme.