Sinceramente a figurinha, ainda que se diga Dragão, não me inspira muita (nenhuma) confiança. Digamos, para atenuar este azedume, que é um filho das boas famílias da sub-baixa do Porto. Todavia, há coisas que não podem passar sem o dedo acusatório, sem a denúncia devida, até porque fazendo fé numa certa imprensa lisboeta e numa certa espécie de procuradora, ser apoiante do azul e branco já é crime... Mas vamos à história:
Um agente da Divisão de Trânsito da PSP do Porto foi afastado das funções que exercia e transferido para um novo local de trabalho supostamente por ter sido testemunha abonatória do líder da claque dos Super Dragões, conta a edição de hoje do Jornal de Notícias.
O depoimento do agente policial, na semana passada no Tribunal de Matosinhos, terá ajudado à absolvição do adepto do FC Porto, julgado em processo sumário por crimes de coacção e resistência sobre funcionário, ofensas à integridade física e invasão de recinto desportivo.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o polícia é amigo de Fernando Madureira desde a infância e desempenhava a função de motorista de um adjunto de um dos comissários da Divisão de Trânsito. Foi transferido para um parque onde estão guardadas viaturas apreendidas, o que, soube o JN, é considerado por elementos da PSP como uma "despromoção".
Esta opção da vida pessoal do agente terá caído mal no seio das hierarquias da PSP-Porto. É que a medida de afastamento de funções coincidiu com o momento em que a instituição tomou conhecimento de que o polícia tinha prestado depoimento a favor do arguido, no processo em que eram ofendidos colegas colocados na PSP de Matosinhos. O caso, recorde-se, teve a ver com tumultos ocorridos durante o jogo de basquetebol FC Porto-Ovarense, disputado a 24 de Maio, no Centro de Desportos de Matosinhos.O elemento em causa depôs como testemunha abonatória de Fernando Madureira, relatando aspectos relacionados com a sua personalidade. Os dois terão sido colegas na escola.
Aquele testemunho - conforme descreveu a juíza do processo na sentença -, aliado ao depoimento de outras testemunhas, terá ajudado o tribunal somente a perceber o modo de funcionamento da claque e as funções do líder, uma vez que o referido agente não presenciou os incidentes. Recorde-se que Madureira alegou, em sua defesa, que procurou apenas acalmar os ânimos dos adeptos e não agredir os agentes da PSP de Matosinhos.
Contactado pelo JN, o Comando Metropolitano do Porto da PSP escusou-se a prestar qualquer tipo de esclarecimento sobre esta matéria, pelo facto de tratar-se de "um assunto de âmbito interno". Por isso mesmo, não foi possível confirmar se sobre a testemunha de defesa do líder da claque dos Super Dragões irá recair um processo disciplinar, por alegada violação do dever de lealdade, ao, supostamente, não ter avisado os seus superiores hierárquicos de que iria depor no processo do amigo.
Comentário final: O sentido democrático da PSP do Porto não surpreende. Neste Portugal do Século XXI, há quem seja processado por dizer uma piada sobre o primeiro-ministro, há quem seja demitido por afixar uma fotocópia a criticar um ministro, há quem tenha de responder perante o Ministério Público por ter participado numa manifestação. Os exemplos somam-se. Se o Macaco tivesse sido condenado, provavelmente tudo ficaria em águas de bacalhau. Assim, a PSP esquece um princípio fundamental: um polícia é também um cidadão e, neste caso, o seu testemunho em nada colocou em xeque a acção dos seus colegas, por acaso excessiva e desproporcionada, no Pavilhão de Matosinhos, porque pura e simplesmente nem esteve lá. Quando solicitado por um cidadão, seja ele qual for, um polícia não deve estar impedido de testemunhar em Tribunal porque se o fizer, só vai seguramente estar a dizer a verdade. Sobre o Macaco ou sobre outra pessoa qualquer. E as sentenças são dadas pelos juízes, não pelas chefias policiais. A PSP do Porto tem algum problema em que um dos seus agentes diga a verdade em Tribunal, ou um elemento de claque tem menos direitos do que qualquer outro cidadão?
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