Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Opinião: "A morte da confiança"

"Um amigo fez-me recentemente uma pergunta aparentemente ingénua: "O que é o dinheiro? Como é que eu sei que posso confiar que ele vale o que diz que vale?" Na introdução à Economia aprendemos que o dinheiro é um meio de troca. Mas por que é que aceitamos isso? As notas não passam de pedaços de papel com um número associado. Acreditamos nas notas porque decidimos colectivamente confiar no governo quando este diz que 100 é 100 e não 10 ou 50. Assim sendo, o dinheiro é uma questão de confiança, sem o qual nenhuma sociedade consegue funcionar. Tal como acreditamos nas ordens dos nossos líderes para lutar e morrer porque confiamos no seu julgamento, entregamos a nossa carreira e o nosso dinheiro àqueles que dirigem o Citigroup e o Goldman Sachs e outros bancos que tais, porque acreditamos que eles serão justos para com os seus empregados e clientes, e honestos nas suas práticas. A nossa aspiração não é trabalhar com crápulas e aldrabões. Uma vez abalada essa confiança, não acontece nada de bom. O dinheiro deixa de ter credibilidade. Os líderes transformam-se em figuras de desprezo ou pior. À medida que eu escrevo, a inflação no Zimbabwe atingiu um nível inimaginável (se não mesmo indizível) de mais de 500 triliões por cento. Um trilião é um milhão de biliões. Há um ano a inflação era "apenas" de 100 000%. É isto que acontece quando a confiança desaparece. Felizmente o Zimbabwe não é um país com um peso real para a estabilidade mundial. Mas a República de Weimar e a China nos anos 1940 eram. Uma escolheu o Hitler e a outra Mao Tsé-Tung para restaurar a confiança. Os riscos são, portanto, óbvios. Será que estamos a assistir a um desgaste da confiança nos Estados Unidos e no Reino Unido? O primeiro sinal de aviso surgiu em 2001 com a falência da Enron nos Estados Unidos. A contabilidade fraudulenta foi certificada pela Arthur Andersen. Agora, na Satyam na Índia, auditada pela PriceWaterhouseCoopers, descobriu-se a falta de milhares de milhões em dinheiro. Se não podemos confiar nos melhores auditores, podemos continuar a confiar em contabilistas diplomados? Agências de rating emitiram classificações enganadoras sobre empresas de saúde duvidosa. Será que alguma vez poderemos voltar a confiar numa classificação de três "A" feita, por exemplo, pela Moody's? Os bancos ficam com o nosso dinheiro para o guardar em segurança desde o século XIV, quando os florentinos inventaram essa prática. O Royal Bank of Scotland, fundado em 1727, quando Adam Smith o filósofo do "laissez-faire" tinha apenas quatro anos de idade, acabou de se tornar propriedade do Estado socialista graças à incompetência dos líderes do banco, que adquiriram, por um preço excessivo, bancos cheios de produtos tóxicos. O Citicorp, o Bank of America, o Goldman Sachs, o Merrill Lynch, e outros símbolos de "excelência" teriam todos falido se não fossem as ajudas financeiras. E, no entanto, durante dezenas de anos pensámos que as pessoas que geriam essas instituições bancárias eram muito mais espertas que nós. Crescemos a admirar líderes como Robert Rubin, John Thain, e Henry Paulson. Rubin, um antigo secretário do Tesouro norte-americano e ex-presidente do Goldman Sachs, era o presidente aquando do colapso do Citigroup enquanto arrecadava 150 milhões de dólares em bónus. Será que ele devia ter ainda sido recompensado pelo seu "desempenho"? Recentemente, no Citigroup, em falência técnica, os executivos principais estiveram quase a comprar, para sua utilização própria, um avião a jacto novo, francês, de luxo, por 50 milhões, mas a Casa Branca impediu essa aquisição. Thain, também um dos antigos presidentes do Goldman Sachs, ficou, juntamente com os seus colaboradores da Merrill Lynch, com 4 mil milhões de dólares de bónus, e isto depois de ter tido de vender a empresa ao Bank of America para a salvar da bancarrota. Quando se descobriu que estava a gastar 1,2 milhões de dólares - com o Merrill Lynch em colapso - na decoração do seu novo escritório, o Bank of America teve de o despedir para aplacar o crescente desagrado relativamente à descontrolada cultura dos benefícios garantidos que se multiplica em Wall Street. Paulson, o secretário do Tesouro cessante e outro veterano do Goldman Sachs, deixou no seu pacote de medidas um buraco com tamanho suficiente para passar um camião. Esse buraco permitiu aos seus amigos e colegas da Wall Street auto-recompensarem-se com milhares de milhões de dólares, ao mesmo tempo que mantinham as empresas à tona com o dinheiro dos contribuintes. As universidades que estes homens frequentaram - Harvard e Yale para Rubin; MIT e Harvard para Thain; Dartmouth e Harvard para Paulson - foram um chamariz para os jovens mais talentosos do mundo. O resto das pessoas pensou que estas instituições conseguiam inculcar a sabedoria, a visão, e o carácter que todos gostaríamos que houvesse mais. Talvez os pais do mundo inteiro devessem reavaliar a sua muitas vezes obsessiva ânsia por estas universidades "de marca", empurrando os filhos como se ter um diploma da Ivy League fosse um fim em si mesmo. Agora sabemos que os gigantes da Wall Street nunca foram assim tão espertos e seguramente, nunca foram assim tão éticos, pois chumbaram no único exame que realmente conta. Todas as empresas a que presidiram entraram em colapso, e só foram salvas com o dinheiro daqueles que nunca conseguiram um cargo importante na Wall Street ou um lugar em Harvard. Estes príncipes da Wall Street só foram mais espertos num aspecto: conseguiram meter ao bolso uma fortuna, ao passo que o resto de nós se encontra encravado na confusão que eles deixaram atrás de si. Bernard Madoff que provém de uma parte menos nobre da cidade de Nova Iorque, que frequentou uma universidade sofrível, vai passar algum tempo na prisão, mas isso nunca irá acontecer com nenhum dos gigantes da Wall Street cheios de "pedigree". A História não tem sido simpática com as sociedades que perdem a confiança na integridade dos seus líderes e das suas instituições. Temos de salvar o nosso sistema económico dos que dele abusam, se não... ".
- por Sin-ming Shaw, Investidor privado e antigo investigador visitante da Princeton University Project Syndicate (no PÚBLICO)
Retirado do Ultra periferias

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