O aborto gráfico...
Os do aborto gráfico dizem lá na Base IV alínea b) que se eliminam as consoantes ditas mudas (por eles, que são surdos...); entre os exemplos dão o verbo adoptar. Ora esses do aborto gráfico são os mesmos que propunham haver até 1 de Janeiro de 1993 [A.O. (1990), art. 2º] um vocabulário ortográfico comum do português. Até hoje não há nenhum, comum. Adiante.
Quem são os do aborto gráfico? — Pois, os países da C.P.L.P. que firmaram o Acordo, pode parecer... — Mas não! Nem são sequer os três países que o ratificaram ao abrigo do 2º protocolo modificativo, a saber: o Brasil mais dois ínfimos arquipélagos atlânticos alçados por países na vertigem de Abril.
Quem julgais então que se empenhou no tal vocabulário do português que havia de ser comum? Os ínfimos arquipélagos atlânticos?!... Pois bem, para bom entendedor... acabamos de identificar donde são os do aborto gráfico.
Atentai agora em duas coisas: 1) um vocabulário dum só país não pode ser comum, mas... 2) sendo oferecido ao presidente da República Portuguesa e aceito solenemente por ele, passa por valer para Portugal e não se fala mais nisso. Sigamos.
No vocabulário em questão, brasileiro, estranhamente existe o verbo adoptar, com pê, a par do verbo adotar, mutilado. Afiançam-me do Brasil que ninguém por lá diz (nem escreve) à-dò-ptar em vez de à-dò-tar, logo o verbo adoptar parece deslocado; aquele pê etimológico não se ensina no Brasil.
Em Portugal também ninguém diz â-dò-ptar, mas o pê etimológico tem valor diacrítico (escreve-se para marcar o timbre aberto da vogal que o precede e cuja dicção tende a fechar-se em |u| na fala portuguesa), logo, o pê de adoptar é tão sonoro quanto a vogal |ò|. Demonstra-se assim que não há letras mudas em português mas que se pode em vez disso chamar surdos aos ignorantões que o não entendam.
Como foi aquele verbo adoptar parar ao Vocabulário brasileiro não sei, mas faço uma ideia; foi de Portugal, tal como idioma. É conhecido que autores portugueses têm sido ultimamente publicados no Brasil fazendo questão de que se lhes não mexa na grafia: o Saramago e o Sousa Tavares são dois desses. Deduzo que das obras destes autores, o verbo tenha sido adicionado aos dicionários (adoptar foi registado no Aurélio com remissão para adotar) e daí tenha acabado por entar no Vocabulário brasileiro. Com inteligência, boa literatura e discreta perseverança já tínhamos o método para o Brasil tornar ao bom português sem desatarmos nós a pontapear a ortografia. Em vez disto, bestas a soldo que conspiram pelas lojas e cujos mandaretes campeiam pelo governo e pela imprensa optaram pela asneira primorosa. Como se não bastasse, da ardilosa inépcia da Academia malaquenha para conceber um Vocabulário português, chegamos a um competentíssimo copy/paste decalque do Vocabulário brasileiro que o I.L.T.E.C., a mando do governo, há-de ter pago às empresas de informática contratadas (por ajuste?) para alimentarem o Portal da Língua Portuguesa. É lá que aprendemos com toda a erudição: adoptar, com pê, existe em português, mas é brasileiro.
Se não quer adoptar o brasileiro pelo português assine para uma Proposta de Lei.
Via Bic Laranja
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