Somos um povo irremediavelmente perdido na contemplação de glórias passadas. Não temos pejo em distorcer factos históricos, fechando a vista a outros, para compor um auto-retrato lisonjeador. Fazemos gala da ignorância mais abissal, de modo a inventar mais um ou outro detalhe mitómano na nossa biografia sonhada. Inchamos de orgulho a contemplar os feitos salvíficos de um herói, esquecendo os crimes cometidos contra o mesmo povo pelo nosso Estado e por tantos de nós ao longo de tantos anos. Não nos importamos de transformar a fuga à miséria de milhares de emigrantes numa coisa boa. Aliás, temos grande facilidade em metamorfosear a desgraça em virtudes; até inventámos o género musical luso por excelência a partir deste duvidoso alicerce. Inflacionamos sem vergonha a nossa escassa caridade, de modo a amplificar o nosso sentido de importância na ordem das coisas. Conseguimos fazer tudo isto, ao que parece, à pala do erário público. Depois, queixem-se de que os gajos não nos querem emprestar um chavo.
0 comentários:
Enviar um comentário