Atente-se bem na seguinte notícia veiculada na edição on-line do Expresso:
"Depois do Governo socialista e Sócrates conquistarem boa nota, é a vez do «Simplex» ser considerado útil pelos inquiridos. Estes são os resultados do Barómetro Eurosondagem realizado para a SIC, Expresso e Rádio Renascença. Há duas semanas o primeiro-ministro José Sócrates anunciou 333 medidas de desburocratização do Estado. Três quartos dos portugueses (67, 3%) consideram que o «Simplex» é, efectivamente, útil. Uma maioria igualmente significativa (40,4%) atribui uma credibilidade razoável à generalidade das políticas apresentadas pelo Governo."
Mais do que a desburocratização, precisávamos era da “desburrocratização” do Estado, dos portugueses e da imprensa. Esta já nos tinha habituado à defesa da anglofonia, dizendo recorrentemente que 1.000.000.000 é um bilião (como nos países anglófonos) e não mil milhões, como se deve dizer por cá. Outro exemplo é ouvirmos constantemente, não só da imprensa falada, como dos políticos e dos portugueses em geral, pronunciar a palavra latina media como "mídia". De uma vez por todas, tome-se nota do seguinte: os anglófonos dizem "mídia" porque são incapazes de pronunciar qualquer outra língua que não seja a deles. Nós, portugueses, não temos nada que os copiar. Se a palavra media (que designa imprensa) é latina, então é "média" que se pronuncia, e não "mídia". Para evitar o estúpido inglesismo, seria melhor passar a escrevê-la com acento (média), situação que o próprio dicionário já prevê.
Mas se de inglesismos injustificáveis estava já a imprensa cheia, pior ainda é quando maltrata a matemática desta forma (rever notícia de cima, se necessário). Até um leigo em números como eu sabe que três quartos não são 67%, mas sim 75%. 67% seria, quando muito, dois terços. Não tão crasso, mas, no mínimo, duvidoso, é chamar a uma percentagem de 40% uma maioria significativa.
Só para dar mais um exemplo da confusão que por aí grassa nas contas, veja-se um trecho retirado de um dos maiores best-sellers portugueses dos últimos tempos (curiosamente, escrito por um jornalista, José Rodrigues dos Santos), O Codex 632: no final do capítulo XVII (pág. 523 na 9ª edição, para quem quiser ir lá confirmar), escreve JRS assim: “Terminou de preencher o cheque e entregou-o a Tomás. Rabiscados a tinta azul, viam-se oito algarismos, um cinco e sete zeros. Meio milhão de dólares. O preço do silêncio.” Ora bem, o preço do silêncio é então bem mais alto do que meio milhão de dólares. 50.000.000 (um cinco e sete zeros) são cinquenta milhões e não meio milhão. Meio milhão é quinhentos mil dólares (500.000, um cinco e seis zeros). Na altura em que se escreve, este tipo de engano é normal. Talvez não seja tão normal é ser publicado assim, já que, antes de o ser, um romance é visto e revisto não só pelo escritor mas também por, pelo menos, um revisor da editora.
Isto não admira assim tanto. Se as pessoas ainda não perceberam que o artista Sócrates não é socialista (é uma estrela de televisão fascizóide, como Berlusconi), como se irão aperceber dos erros nos números? Qualquer coisa serve, que para nós está sempre tudo bem. Mas para levar para a frente o “Simplex”, o melhor seria desligarmos primeiro o “Complicadex”…
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