Entre viagens para a Alemanha para apoiar a selecção e anúncios diários de grandes proezas a nível do choque tecnológico, lá vai o país dando passos largos e apressados em direcção ao precipício, entregue que está a comunicadores mestres na arte de enganar os tolos.
Sócrates é um narcisista que quer ficar na história. E, à semelhança dos piores regimes ditatoriais, que promovem a ignorância para mais facilmente estarem instalados no poder (através da propaganda, convencendo as pessoas de que a verdade é mentira e a mentira é verdade), todos os dias são, para ele, dias históricos. Inventa-se caixas de correio electrónico que já estavam inventadas, aí está mais um dia histórico para Portugal; todo o país é coberto pela banda larga, eis outro dia histórico; acaba a edição do Diário da República em papel, pois claro, outro dia histórico!
No meio do estardalhaço que tudo isto causa, lá se vai esquecendo mais um impostozinho que foi metido à socapa ali pelo meio, mais umas coisinhas que vão deixar de ser dedutíveis no IRS ou mais uns direitozinhos dos trabalhadores que demoraram décadas a ser conquistados e que este “histórico” governo elimina facilmente de um dia para o outro. O que interessa é manter as palavras de ordem: Portugal está na vanguarda da tecnologia e o choque tecnológico vende-se que nem banha da cobra num país de analfabetos.
Não é por acaso que a (de)formação de Sócrates é a Engenharia Civil. É um engenheiro inovador (palavra de que tanto gosta), o primeiro que consegue começar a construir a casa pelo telhado. Que importa que a escola seja um depósito de delinquentes e não um local de instrução, se temos um Plano Nacional de Leitura? Que importa que dois terços dos portugueses adultos não saibam o que é um computador, se temos um Choque Tecnológico? Afinal, a Finlândia é a nossa inspiração. Esses começaram ao contrário, dando primeiro às pessoas a formação e os meios necessários e só depois desenvolvendo uma tecnologia para todos. Pobres finlandeses, que não tinham um Sócrates para lhes mostrar que a coisa pode começar logo pelo fim, poupando assim tempo e dinheiro.
O outro, o da Madeira, é que é o tolo para os continentais. Como gosta de Carnaval, é popularucho e diz o que bem lhe apetece, os evoluidíssimos continentais chamam-lhe provinciano, palhaço e pseudo-ditador, não percebendo que não precisavam de molhar os pés no Atlântico para arranjar o receptáculo certo para esses epítetos, que se encontra em Lisboa, na grande metrópole e capital do Império. No Porto também há um que incomoda, mas esse é do futebol, não interessa. Ou melhor, agora interessa, que o futebol, graças à selecção, sempre vai capitalizando uma alegria extra que até pode valer mais uns votos. Basta que os donos do Império vão ver uns joguitos de vez em quando e que finjam que até gostam de futebol e que nem se importem que as pessoas confundam os símbolos do decrépito país com os símbolos de uma selecção em alta.
Mas, dizia eu, sempre que os continentais ouvidos se voltam para Lisboa, os meus têm uma estranha tendência para captar as ondas que chegam, via atlântica, com sotaque madeirense. Percebe-se a dor de cotovelo continental, mas ainda há por aqui um continental (sim, sou eu) que percebe que a Madeira, com o mesmo barulhento ao leme há muitos anos, vai remando contra a maré. Portugal (Continente e Açores) afunda-se no remoinho e a Madeira vai conquistando a superfície, o que me leva a pensar que mais vale o folclore popular de Jardim do que o folclore de fato e gravata do nasalado engenheiro/estrela de televisão/Primeiro-Ministro. E o pior estilo, para mim, será sempre o estilo mentiroso e hipócrita em que esta gente dos gabinetes de Lisboa se especializou. Jardim sempre apoiou o futebol, enquanto Lisboa tentou denegri-lo. Mas agora é Lisboa que, hipocritamente, se mostra nos grandes palcos do futebol, aproveitando-se politicamente do êxito da selecção. Jardim disse-o ontem, porque não anda a dormir. E, como é seu timbre, foi contra o seu próprio partido, ao dizer que este governo deveria ser imediatamente demitido porque amanhã pode ser tarde demais. Eu também acho. Abrir-se-ia uma crise política. E depois? Há alguma coisa ainda a perder? A mim parece-me que, para aqueles a quem os tachos não chegaram, já tudo se perdeu. Os únicos que ainda têm muito a perder são os parasitas do costume. E esses, quero mesmo que percam. E, sim, as únicas eleições em que votaria neste momento seriam as do Futebol Clube do Porto, para eleger o mesmo de sempre, que em equipa que ganha não se mexe. Infelizmente, não posso votar porque não sou sócio. Ou então, se pudesse, votava nas da Madeira, também para eleger o mesmo de sempre, que tem aquilo controlado, é verdade, mas não mais do que a oligarquia continental, embora os tolos continentais continuem a chamar-lhe pseudo-ditador sem verem o que têm dentro de casa. Esse, pelo menos, não faz só barulho, também tem feito obra. Por aqui, é só choques. A mim, o único choque que aproveitava, era o do PM e da sua corte. Um choque de cadeira eléctrica, pois claro.
(recebido via email)
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