Em 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas determinou que o dia 27 de Janeiro seria o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, celebrado anualmente. Esta data foi escolhida por marcar o dia de 1945 em que o Exército Soviético libertou o maior campo de concentração nazi, Auschwitz-Birkenau, na Polónia.
Recordar o Holocausto é particularmente significativo para mim, porque o meu pai foi, com 18 anos, enviado para o campo de concentração de Buchenwald, na Alemanha. Felizmente, foi libertado e acabou por fugir para os EUA. Uma tia minha foi igualmente sobrevivente do Holocausto. Foi enviada para Auschwitz, onde perdeu o marido, tendo sido libertada de um campo de trabalhos forçados na Checoslováquia, após a guerra. Muitos dos meus familiares, contudo, não sobreviveram.
Em 1933, quando Adolph Hitler chegou ao poder na Alemanha, a Europa tinha uma população judaica de nove milhões de pessoas. Quando a guerra terminou, quase dois terços dos judeus europeus tinham sido exterminados. Embora os judeus tenham sido as principais vítimas do racismo nazi, milhões de outros indivíduos foram seleccionados e exterminados - incluindo ciganos, pessoas com incapacidade física e mental, dissidentes políticos e homossexuais.
Em 2000, o Governo sueco acolheu um Fórum Internacional sobre o Holocausto. A frase final da declaração desse encontro afirmava: "O nosso empenho deve ir no sentido de recordar as vítimas que perderam a vida, respeitar os sobreviventes entre nós e reafirmar a aspiração comum da Humanidade de uma concórdia moral e de justiça."
Passaram quase 67 anos sobre o fim das atrocidades nazis mas, infelizmente, o genocídio e outras formas de desumanidade não morreram com o regime nacional-socialista.
Hoje, enquanto membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA e Portugal unem-se para, com os nossos parceiros internacionais, combaterem a violência e outras injustiças sistemáticas. É uma luta contínua, mas na qual devemos permanecer empenhados, se quisermos cumprir a aspiração humana de justiça, para parafrasear a Declaração de Estocolmo.
Em 2009, o Presidente Obama visitou Buchenwald - o campo de concentração onde o meu pai esteve detido -, na companhia de Elie Wiesel, um sobrevivente do Holocausto que ganhou o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços para mostrar ao mundo a desumanidade dos campos de morte de Adolph Hitler. Wiesel sublinhou nesse dia que "a memória tornou-se o dever sagrado de todos os povos de boa vontade".
Ao reflectir sobre o Holocausto, é importante recordar não apenas os milhões que pereceram mas também os que demonstraram coragem - muitas vezes com risco da própria vida - para ajudar terceiros.
Um desses indivíduos foi Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus que durante a Segunda Guerra Mundial desafiou ordens do seu próprio Governo para emitir, numa só semana, mais de dez mil vistos a judeus e outros refugiados, ajudando-os a sair de França.
Outro herói esquecido foi Carlos de Almeida Fonseca Sampaio Garrido, embaixador português em Budapeste de 1939 a 1944, que ajudou a dar refúgio a judeus húngaros e que permaneceu ele próprio na Hungria para ajudar centenas a obter os documentos de viagem para abandonar o país, mesmo depois de o Governo húngaro o declarar persona non grata e ordenar a sua partida. Sinto-me honrado por ter participado, no dia 23 deste mês, numa cerimónia em homenagem ao embaixador Sampaio Garrido, organizada pela Junta de Freguesia dos Anjos.
Portugal desempenhou um papel singular na ajuda que prestou a refugiados em fuga do terror nazi. É minha esperança que, no próximo ano, como parte do nosso esforço para informar futuras gerações sobre um mal que não queremos nunca mais ver repetido, a Embaixada americana possa trabalhar com especialistas universitários portugueses e outros, no sentido de promover iniciativas nacionais já existentes na pesquisa e ensino do Holocausto.
Como referiu o Presidente Obama em Maio passado: "Devemos honrar a nossa responsabilidade sagrada de prestar homenagem a todos os que pereceram, recordando a sua coragem e dignidade face a atrocidades indescritíveis, insistindo para que o mundo nunca as esqueça, e erguendo-nos sempre contra a intolerância e a injustiça."
por ALLAN J. KATZ, EMBAIXADOR DOS EUA EM PORTUGAL