Centralismo e colonialismo lisboeta
O presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto afirmou, esta quinta-feira, ter sido "surpreendido" com o "tratamento diferenciado" que "beneficia" corporações de Lisboa e Vale do Tejo na questão dos pagamentos com doentes não urgentes.
"Fomos surpreendidos com uma situação que não conhecíamos", disse, em declarações à Lusa, José Miranda, comentando o levantamento da suspensão do serviço de transporte de doentes não urgentes por parte das corporações de bombeiros de Sintra e Amadora.
Em Dezembro, as direcções das nove corporações da associação de bombeiros de Agualva-Cacém decidiram suspender este serviço, considerando que o novo Sistema de Gestão de Transportes de Doentes da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) provocou quebras de receitas de 70% da facturação.
Após um entendimento "provisório" com a ARS, as corporações decidiram levantar esta suspensão ao início da noite de quarta-feira.
Para a Federação do Porto, que representa 45 corporações de bombeiros voluntários, "o problema nunca existiu [no distrito] porque os bombeiros nem sabiam que havia uma espécie de regime de excepção para LVT e sempre se limitaram a cumprir a lei".
"Solicitámos já esta manhã uma reunião com a ARS do Norte para abordar esta questão", salientou o responsável, adiantando que o objectivo é "perceber porque é que os bombeiros daquela região são beneficiados em relação ao resto do país".
Afirmando que os bombeiros do Porto "não estão contra os colegas de LVT" e até os "felicitam pela sua dinâmica", José Miranda disse, contudo, que esta é mais uma situação que demonstra como há diferenciação no tratamento dado às regiões.
"No Porto e no resto do país, se os bombeiros transportarem cinco doentes apenas recebem a 100% (7,5 euros) pelo 1.º doente, sendo o transporte dos restantes pago a apenas 20%. Já em Lisboa não é assim, são todos pagos a 100%, e nós não sabíamos", exemplificou.
Aquando do anúncio da suspensão do transporte de doentes, o presidente da direcção da associação de bombeiros de Agualva-Cacém sublinhou que "desde Setembro que a ARS alterou regras de pagamento do serviço de transporte de doentes não urgentes, não contemplando o retorno do doente transportado às unidades hospitalares e alterando o preço por quilómetro".
"Nesta altura a taxa de saída das ambulâncias com um utente são 7,5 euros. Os restantes utentes pagam 1,5 euros. Como a ARS não paga o retorno, acabamos por estar a transportar pessoas a 75 cêntimos. Isto não dá nem para o combustível e cada tripulação de dois homens no mínimo são dez euros à hora", explicou António Carvalho.
Com o acordo "provisório", disse, "foram retomados os valores praticados [até 1 de Novembro]", não havendo "nenhum custo acrescido para o Estado".
António Carvalho negou que Lisboa fique com um regime de excepção face a outros distritos, adiantando que 80% dos serviços das corporações do distrito distam menos de 15 quilómetros.
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