Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Momento de literatura: Férias

O Verão terminou mal. A ideia dos dois casais amigos, amigos de muitos anos, de alugarem uma casa juntos não foi boa. Tudo por causa do comentário que o Gonçalves fez ao ver a Sónia, de bikini fio dental pela primeira vez. Nem tinha sido um comentário. Mais um som indefinido.
- Omnahnamon!
Aquilo ficara mal. A própria Sónia sorrira sem jeito. O amigo Meireles fechara a cara, mas decidira deixar passar. Afinal era o primeiro dia deles na praia, criar um caso naquela altura estragava tudo. Eram amigos demais para que um simples deslize – o som fora involuntário, isso era claro – acabasse com tudo. E ainda por cima a casa já estava paga até o último dia.
Naquela noite no quarto a Teresa pediu satisfações ao Gonçalves.
- Então Gonçalves. Não se faz!
- Não consegui controlar.
- À frente do Meireles!
- Eu sei. Foi chato. Mas saiu. O que posso fazer?
- Nós conhecemos a Sónia e o Meireles há quê? 10 anos?
- Mas eu nunca tinha visto o cu da Sónia.
- Ora, Gonçalves!
- Não percebes? Podemos conviver com uma pessoa 20 anos e ainda nos surpreendermos com ela. O cu da Sónia surpreendeu-me. Apanhou-me desprevenido.
- Vais-me dizer que nunca imaginaste, nem sequer, como seria?
- Nunca. Juro! Nem me passou pela cabeça. E de repente estava ali, todo… sei lá. Todo ali.
- Então vê se te controlas.
Até o fim das férias o Gonçalves fez questão de nem olhar para o fio dental da Sónia. Quando os quatro iam para a praia, apressava-se a caminhar na frente. Se por acaso as nádegas da Sónia passassem pelo seu campo de visão, olhava para cima, tapava a cara com o jornal, assobiava.
Um dia estavam o Gonçalves e o Meireles sentados na piscina a Sónia tinha-lhes trazido a caipirinha de bikini e voltava para a casa, e o Gonçalves suspirou.
- Que foi? disse o Meireles agressivo.
- Este governo – disse o Gonçalves – Não acredito nele.
- Ah. – disse o Meireles.
Até o fim das férias ficou aquela coisa chata entre os quatro. O Gonçalves não podia tossir sem que todos olhassem desconfiados.

[Luis Fernando Verissimo]

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