Em 2009, a Estrutura de Missão do Douro fez um relatório sobre a Barragem de Foz Tua, assinado por Ricardo Magalhães, Chefe de Projecto da Missão do Douro.
E se o relatório do ICOMOS / UNESCO escondido pelo Governo é arrasador no que toca aos efeitos da construção da Barragem na paisagem duriense, o presente relatório não o é menos. Espantoso, sobretudo porque assinado por alguém que tem vindo a defender continuamente a construção do empreendimento.
Atente-se apenas nas seguintes frases do relatório:
«Questões críticas que não se podem escamotear: A hipótese de vir a ser criada uma toalha de água (mais ou menos interessante, consoante a cota de pleno armazenamento) que não seja suficientemente diferenciadora. (…) Não se diferenciará do Azibo, do Alto Rabagão, do Douro e, portanto, dificilmente se poderá constituir numa clara vantagem competitiva decisiva para a região.»
«A singularidade paisagística de uma parte do Vale que o torna, em termos de recurso turístico, um atractivo de excepção e, portanto, uma mais-valia, decorrente da associação do vale encaixado com a presença marcante do comboio e a possibilidade do mesmo fruir. O vale, sem o comboio, constitui um valor natural efectivo, em termos de sustentabilidade mas não tem uma valia intrínseca específica, uma vez que não é acessível.»
«A eliminação da ligação ferroviária diminuirá, à partida, a atractividade e a possibilidade de exploração turística do corredor do Tua, em particular, de Mirandela, na medida em que desaparecerá a oferta de um produto turístico – o passeio à Foz do Tua.»
«A singularidade da parte encaixada do Vale do Tua só é possível de ser contemplada a partir de uma obra notável que foi a construção do caminho-de-ferro. O paradoxal da situação é que é também a singularidade da obra ferroviária que associada à inacessibilidade daquele espaço, cria um conjunto único, passível de ser visitado, com valia patrimonial e simbólica, únicas. Ora, a construção do empreendimento afogará parte da linha e tapará a singularidade.»
«Um paredão na embocadura do rio, no início da garganta do Tua representará uma profunda intrusão visual para quem suba o rio Douro.»
«Do mesmo modo nos referimos, face à localização prevista, à Central, à Subestação superficial e ao Edifício de Comando e Controle que serão elementos edificados, manifestamente, impactantes no espaço em causa.»
«Não será possível equacionar a localização da barragem, a montante do previsto, de forma a salvaguardar-se a “linha – património”, como recurso de identidade, que é? Temos, também a noção que estamos perante uma memória e um recurso, ambos com valor. E que, por isso, ganha cada vez mais sentido no Douro, estimular uma estratégia de valorização do seu património cultural.»
«Estamos, pois, pelas razões já expostas ao longo desta informação, perante um dilema real que merece uma explicação mais clara.»
Só é pena que, desde 2009 até hoje, Ricardo Magalhães tenha mudado de ideias. Agora, já não há dilemas e já não há qualquer problema em construir a Barragem. A esta gente que não tem coerência nem espinha dorsal, a podridão que se vive em Portugal é o melhor dos sistemas. A vida está para eles e o país, o Douro e o Tua que se lixem.
DOWNLOAD DO DOCUMENTO: EMD2009
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