1. No último sábado aconteceu algo de inesperado no aeroporto do Porto. Foi necessário esperar mais de uma hora para se passar o controlo de segurança de pessoas e bagagens de mão. A fila começava na porta de acesso à segurança, avançava até às portas rolantes da entrada do aeroporto, fazia um caracol e depois gerava um segundo caracol... Não havia fitas nem quem ordenasse as pessoas. Confusão total.
A situação tem-se repetido nos últimos sábados. Entre as 8 e as 10 horas partem quatro voos intercontinentais, além de muitas rotas europeias. Em consequência, o estrangulamento na verificação das bagagens de mão pode fazer muita gente perder os aviões. Não sei se a culpa é da empresa Securitas, que controla o fluxo de passageiros, se do contrato que não obriga a estarem a funcionar mais postos de raios X, se de qualquer outra idiossincrasia. A verdade é que o aeroporto nunca esteve assim.
Do ponto de vista da imagem do Porto (e do país) ficamos mal na fotografia. São os passageiros que se metem à frente, são as pessoas desesperadas que querem ir com prioridade porque o avião está a partir, é a ausência de funcionários a controlar este problema. Ser o terceiro melhor aeroporto da Europa é um troféu de grande orgulho. Mas se o problema se mantiver, adeus troféu em 2012.
Fica entretanto o aviso: talvez seja mesmo necessário fazer-se no Porto como em Londres ou Nova Iorque, ou seja, garantir-se pelo menos duas horas e meia para se fazer check-in e depois o controlo de segurança, pelo menos na hora de ponta da manhã. Entretanto a ANA deveria explicar o que vai fazer para que isto não suceda.
2. O aeroporto pode estar a caminhar para o caos gerado pelo seu próprio sucesso. Até mesmo o espaço para fazer check-in em algumas companhias parece pensado para um número de pessoas que não o actual. Poderá ser redesenhado o layout da zona de entrada da gare?
Seis milhões de passageiros passaram em 2011 por Pedras Rubras. Um recorde. Se tivermos em conta as centenas de milhares de utentes do Porto que têm de ir apanhar voos a Lisboa por a TAP não apostar mais em Pedras Rubras, percebe-se a dimensão cada vez mais internacional desta região, a sua crescente capacidade turística e a vocação de "mundo" dos seus habitantes. Fica também evidente como o "hub" do Porto mantém a atracção à Galiza. E tudo isto é extraordinariamente importante não apenas pela capacidade de companhias low--cost - que alargam o número de rotas directas a partir da capital do Norte -, como também por atrair de novo companhias tradicionais tão importantes para as viagens de negócios. Das grandes transcontinentais só a Lufthansa, a Ibéria (e a TAP) ficaram no Porto, garantindo acesso sem longas esperas às escalas com os voos internacionais. É pouco. Ainda assim, somemos todas as pequenas boas notícias: a SATA anunciou que na Primavera começará a fazer voos directos entre Porto/Munique e Porto/Copenhaga. Menos duas escalas obrigatórias na Portela.
3. O aeroporto do Porto é uma das principais ferramentas das exportações e internacionalização da economia portuguesa. O Governo tem de compreender que a ANA não pode ser vendida por atacado e deixar o aeroporto do Porto nas mãos de quem vai fazer tudo para montar e justificar e rentabilizar a construção do aeroporto de Alcochete. Os homens das empresas precisam no Norte de um aeroporto económico e com destinos directos aos centros de negócios mundiais. Não podem gastar o dobro do tempo e do dinheiro para chegar onde é preciso.
Bloquear a dinâmica do aeroporto é fechar ao Norte a "porta do ar". Em simultâneo, está na agenda do Governo fazer o mesmo bloqueio à "porta do mar" ao retirar a Administração do Porto de Leixões daqui, entregando-a a uma administração centralizada em Lisboa. Na "porta de terra", o custo de portagens e combustível já é brutal e um factor que torna cada vez mais difícil competir por esta via. Queremos o país a exportar ou a manter a oligarquia dos grupos financeiros? A questão não é "contra Lisboa". A questão é garantir que o Norte continua a ter capacidade para rebocar economicamente o país para fora da crise. Como diria alguém conhecido: "deixem-nos trabalhar".
JN
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