O edifício de três pisos ocupa o que antes era o Museu das Marionetas. Para além dos famosos sabonetes, colónias, cremes e uma linha masculina, a Claus Porto conta a sua história numa loja-museu.
Velas perfumadas, sabonetes de várias cores, cheiros e embalagens trabalhadas à mão, cremes de corpo e de barbear. Mas também os primeiros rótulos de 1887 escritos em francês, porque se não estava escrito em francês, não era chique. Um registo de marca, concedido em 1920, a troco de uma taxa de dois escudos e 68 centavos. E o Livro de Honra, que começa com a assinatura do Rei D. Manuel II, em 1908. A monarquia terminaria dois anos depois, a Claus Porto ainda cá está para contar a história. E é mesmo isso que faz, na loja-museu que inaugura esta quinta-feira, na Rua das Flores, na cidade que lhe deu o nome.
“130 anos mais tarde, voltámos finalmente a casa” é o lema da Claus Porto. Esta é a segunda loja no país, já que a primeira abriu em Setembro, em Lisboa. Não era essa a ideia, explica ao Observador Maria João Mendes, directora de comunicação da Ach Brito — que detém a Claus –, numa visita guiada ao espaço, 24 horas antes da apresentação oficial. Era naqueles três andares que estava instalado o Museu das Marionetas do Porto. Quando a Ach Brito comprou a propriedade, foi preciso realojar o Museu e o Teatro de Marionetas e isso terá atrasado a abertura.
O Porto não teve a primeira loja, mas terá a principal. “Esta é a casa da marca“, descreve Maria João Mendes. Ao todo, são 300 metros quadrados onde se inclui loja, dois espaços expositivos diferentes e ainda um piso destinado a workshops. O projecto é do arquitecto João Mendes Ribeiro e a parte mais desafiante foi construir uma escada central, que o próprio desenhou, em madeira maciça de riga.
Foi construída uma escada central que atravessa os três pisos. No piso intermédio há um jardim suspenso e o arquiteto projetou ainda uma claraboia, para deixar entrar luz natural. © Sara Otto Coelho / Observador
Logo à entrada, os clientes entram em contacto com os vários produtos das quatro colecções da Claus Porto. Como a Clássica, com inspiração na estética do século XIX, e composta por 16 sabonetes, cada um com embalagens clássicas tão trabalhadas que dá pena rasgar o papel. Outrora feitos à mão, hoje não seria possível pintar um por um. Mas o embalamento manual mantém-se, na fábrica de Vila do Conde. No centro do espaço fica um lavatório enorme, feito em mármore, onde toda a gente vai poder experimentar os produtos.
A colecção Deco remete para os anos 20 e 30 do século XX e é a maior em catálogo. Aos 10 sabonetes diferentes, disponíveis em três tamanhos, cremes de mãos e velas em seis aromas, envoltas num molde com padrão inspirado em azulejo, juntam-se agora duas novidades: sabonetes líquidos e hidratantes de corpo. A marca centenária tem mais duas novidades. “Gostávamos que a Claus também fosse associada ao lifestyle“, começa por dizer Maria João Mendes, antes de anunciar que a marca também vai começar a produzir outro tipo de produtos “que façam sentido” dentro do conceito. O primeiro já se encontra na loja: é uma saboneteira em porcelana. “É só o primeiro produto que queremos lançar”, adianta.
Outra das novidades é o lançamento de um pincel para a barba e uma taça para misturar o creme para barbear, inserido na linha masculina Musgo Real, que também está em destaque na loja. Tanto que, ao fundo, fica uma zona de barbearia, com uma cadeira antiga de barbeiro, onde os homens vão poder ter a barba feita à navalha, como antigamente, e a pele cuidada com os produtos da marca — creme para barbear, água de colónia, sabonete normal e sabonete de cordel. O serviço só está disponível aos sábados, das 10h às 15h, e funciona por convite. Um mimo aos principais clientes da Musgo Real.
130 anos de história perfumada
A Claus Porto nasceu em 1887 com outro nome, Claus & Schweder, o apelido dos dois alemães que resolveram abrir a primeira fábrica nacional de perfumes e sabonetes, junto à actual rotunda da Boavista. Em 1903, um terceiro homem juntou-se ao grupo para tratar dos números da empresa: Achilles de Brito entrou como contabilista, tornou-se sócio em 1908 e durante a Primeira Guerra Mundial, com a saída dos alemães do país, acabou por criar a Ach Brito e comprar a Claus & Schweder, batizada, mais tarde, com o nome da sua cidade natal.
No segundo piso conta-se um pouco da história da empresa. No canto superior direito estão retratos de Claus e Schweder. No canto inferior esquerdo vemos Achilles de Brito. © Sara Otto Coelho / Observador
É no primeiro piso que se conta parte desta história, através de fotografias antigas, expostas nas paredes, pósteres de prémios ganhos em feiras e exposições internacionais e medalhas. Há uma vitrine só com documentos fundamentais da Claus Porto. Como o registo da marca e o Livro de Honra, cuja primeira assinatura é do rei D. Manuel II. Por baixo da sua assinatura, colocou a data: 1 de Dezembro de 1908.
Desde o início, nas águas perfumadas, nos sabonetes lacrados, nos papéis Belle Époque e nos pós para “conservar e aformosear a beleza”, a Claus Porto dirigiu-se a um público requintado e da nobreza. Actualmente, continua a posicionar-se num segmento de luxo. Já não há reis portugueses para assinar o livro de honra e a fama chega de outra forma — como quando a famosa apresentadora norte-americana Oprah elogiou a marca na televisão. Ainda hoje os Estados Unidos são o primeiro mercado de exportação da Ach Brito e da Claus Porto.
Naquela época, a batalha pelo marketing fazia-se de outra forma. “Exponha estes sabonetes na sua montra ou local bem visível, dentro do seu estabelecimento, porque assim VENDE MAIS, muito mais mesmo!“, pode ler-se num folheto, pousado na vitrine de um dos velhos armários trazidos da fábrica, e onde a Claus expõe agora alguns dos produtos que foi tendo ao longo da história.
Na nova loja há vários produtos antigos da marca em exposição. © Sara Otto Coelho / Observador
Ainda no piso 1, mas do lado oposto, fica uma exposição, com curadoria de Eduardo Pires, sobre a evolução gráfica dos logótipos da Claus Porto, de 1887 até ao rebranding, feito em 2016. “Vamos ter visitas guiadas pela loja”, acrescenta a directora de comunicação.
O caminho para o segundo e último piso inclui um jardim vertical, iluminado por uma claraboia construída para iluminar a nova escada, no centro do edifício. Aqui, com as janelas com vista para a Sé, vão decorrer vários workshops da marca. Como, por exemplo, o “Miny Soap Factory“, onde vai ser possível fazer um sabonete desde a raiz até ao toque final de cunhar o logótipo. Para esse efeito há uma máquina centenária que foi trazida da fábrica de Vila do Conde, usada para testes em pequena quantidade de novos sabonetes.
A equipa não vai revelar todos os segredos por trás dos famosos sabonetes, mas quase. A ideia da loja-museu é aproximar ainda mais a cidade a uma marca que tem levado o nome do Porto a famosos como Nicholas Cage, Johnny Depp ou Kate Moss. Seja para comprar ou para visitar, as portas abrem-se oficialmente ao público na segunda-feira, 12 de Junho.
Colecção Clássica da Claus. Na loja há um lavatório preparado para que seja possível experimentar os produtos. © www.numo.pt
1 comentários:
A primeira casa em Lisboa :-(
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