Já sabíamos, pelo Porto Canal e por Adão Mendes, que quem prejudica o Benfica é castigado. Agora sabemos, pelo Expresso e por Paulo Gonçalves e Luís Filipe Vieira, que quem beneficia o Benfica é premiado. E o recebimento de um benefício em troca de uma vantagem material é… corrupção.
Vamos primeiro aos factos. O que nos revela hoje o Expresso?
1. Em 2014, um funcionário da Federação Portuguesa de Futebol pediu 10 convites para cinco elementos do Conselho de Disciplina assistirem ao Benfica-Juventus, para a Liga Europa. Paulo Gonçalves recomendou que os convites fossem concedidos, tendo em conta uma decisão recente do CD relativa a Jorge Jesus: na sequência de uma expulsão, optaram por lhe aplicar apenas uma multa, em detrimento de uma pena de suspensão.
2. Poucas semanas depois, Paulo Gonçalves sugere a Luís Filipe Vieira que sejam convidadas para a final da Liga Europa, em Turim, quatro pessoas que tinham “de alguma maneira ajudado o Benfica a atingir este objectivo”: Andreia Couto, directora executiva da Liga; Nuno Cabral, delegado da Liga e candidato a menino querido do Benfica; Rodolfo Vaz, um sócio que “sempre tratou do Oblak”; e Emídio Fidalgo “responsável pela nomeação dos delegados da Liga e decisivo nos pareceres que emitiu”.
3. Em Abril de 2015, Paulo Gonçalves informa Vieira que precisa de convites para um Benfica-Nacional, dois deles para Ferreira Nunes, o vice-presidente do Conselho de Arbitragem da FPF responsável pela classificação dos árbitros. Vieira responde que os convites de Ferreira Nunes devem ser para o camarote presidencial.
Confrontados pelo Expresso, o que têm a dizer os envolvidos neste caso?
1. Paulo Gonçalves: o Benfica endereçou vários convites institucionais para a final de Turim. “As pessoas referidas em nada contribuíram para ajudar o Benfica”. Pois não… Por isso é que no email diz que todos tinham “de alguma maneira ajudado a alcançar este objectivo ou ajudado o SLB no passado”.
2. Luís Filipe Vieira: a oferta de convites para jogos do Benfica a membros das instituições do futebol português é uma prática normal, inclusivamente para o camarote presidencial. De resto, vários colunistas do Expresso podem atestá-lo (presumimos que se refira ao cartilheiro Pedro Adão e Silva).
3. Fonte da FPF: os membros dos órgãos sociais da FPF têm direito a assistir a todos os jogos organizados por clubes portugueses.
4. Emídio Fidalgo, à data responsável pela nomeação dos delegados da Liga: “Não confirmo nem desminto se recebi bilhetes.” Será que não queria antes dizer que não tem memória disso, como o outro?
5. Nuno Cabral: “Apague o meu número. Não tenho mais nada a dizer.” O “AGORA APAGUE TUDO” de Adão Mendes, afinal, é um padrão na actuação das figuras que controlam árbitros e delegados e para o Benfica.
6. Ferreira Nunes: “Não faço quaisquer comentários”.
7. Andreia Couto, à data directora executiva da Liga: foi à final da Liga Europa, mas não a convite do Benfica.
Quais os potenciais significados destas novidades avançadas pelo Expresso?
1. A oferta de convites para jogos do Benfica, por si só, não nos parece algo relevante.
2. Quando essa oferta surge na sequência de favores prestados ao Benfica, o caso já muda de figura.
3. Quando essa oferta pode ser acompanhada de viagens e alojamento, que no seu conjunto atingem um valor material significativo, como é verosímil que tenha acontecido em relação aos convidados para a final de Turim, já estamos a falar de coisas diferentes.
Tendo em conta estes pressupostos, parece legítimo considerar-se que as ofertas de bilhetes para o Benfica-Juventus e o Benfica-Nacional a membros do CD e do CA da FPF é, acima de tudo, uma manifestação do clima de proximidade existente entre estes organismos e o Benfica. A oferta material, em si, não é relevante. No entanto, espelha uma relação entre a turma de Carnide e os responsáveis pela arbitragem e a disciplina que está na origem dos benefícios que sustentaram o tetracampeonato. A referência ao favor prestado pelos membros do CD que apenas multaram Jorge Jesus quando lhe poderiam ter aplicado um castigo mais pesado é por demais elucidativa.
A questão dos convidados para a final da Liga Europa é muito diferente e muito mais grave.
- Por um lado, porque estamos a falar de uma vantagem material potencialmente muito mais relevante. Uma viagem a Turim para assistir a uma final europeia com tudo incluído não é comparável com um bilhete para um Benfica-Nacional.
- Por outro lado, porque Paulo Gonçalves assume explicitamente que os convidados que sugere beneficiaram o Benfica no passado. E a verdade é que pelo menos três das sugestões do assessor jurídico da SAD de Carnide, pelas funções que ocupavam, pura e simplesmente não poderiam, em momento ou circunstância alguns, beneficiar o Benfica. Falamos de um delegado da Liga, de um responsável pelos delegados da Liga e de uma directora executiva da Liga. Estamos, portanto, perante um caso em que uma das mais relevantes figuras da estrutura do Benfica assume que o clube foi beneficiado por certas figuras e propõe, na sequência disso, que o clube lhes atribua uma vantagem material.
Três terças-feiras e dois sábados depois, fica cada vez mais evidente que o futebol português é uma mentira e que essa mentira só tem um nome: Benfica.
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