Vai novamente a reunião do Executivo da Câmara Municipal do Porto a proposta para transformação do Palácio do Freixo e do edifício das antigas Moagens Harmonia em Pousada, investimento a cargo do Grupo Pestana.
O facto de o Palácio do Freixo se encontrar devoluto, e de a Câmara do Porto não ter encontrado serventia para este edifício após a conclusão das obras de restauro que o Arq. Fernando Távora aí efectuou, fez surgir a ideia da instalação de uma Pousada, apesar das propostas apresentadas pela Associação Comercial do Porto no sentido de rentabilizar o Palácio numa perspectiva cultural e turística e que ficaram sem qualquer resposta, como é sabido.
O problema surgiu quando ao Palácio do Freixo foi somado o edifício da antiga fábrica da Companhia das Moagens Harmonia, onde, apesar das deficiências e urgentes necessidades de obras de conservação, tem funcionado a sede e o embrião do Museu da Indústria.
Não traria este tema à discussão não fora o caso de me parecer não estar devidamente acautelado o futuro deste Museu da Indústria, que julgo um equipamento cultural fundamental para a cidade do Porto e para toda a zona Norte do País.
A criação de um Museu da Indústria na cidade do Porto assume um relevo muito especial no actual panorama museológico português, pois o entendimento da cidade, do seu poder económico, do seu protagonismo político e do seu carácter urbanístico só poderá ser compreendido através da leitura do fenómeno de industrialização que ocorreu desde alvores do século XIX, fruto de um conjunto de factores que vão desde a morfologia do território e o seu rio, a uma população constituída por artesãos e burgueses endinheirados que desde os séculos XVII/XVIII vinham a investir no trato comercial e no nascimento de unidades industriais.
Do século XIX ao XX várias etapas, vários momentos marcaram esta história mas, nas últimas décadas, assistimos, por via das rápidas transformações económicas, sociais e das mutações tecnológicas, a uma deslocalização da indústria e mesmo ao seu desaparecimento do tecido urbano, ocorrendo um processo de desindustrialização que impôs à cidade novas configurações e a sua terciarização.
Foi neste contexto que em 1993 a Câmara Municipal do Porto e a Associação Empresarial de Portugal (ao tempo AIP) fundaram a Associação para o Museu da Ciência e Indústria com o objectivo principal da criação de um Museu da Ciência e Indústria, composto por colecções próprias, para além do desenvolvimento de acções de divulgação do património industrial da região do Grande Porto. Para a sua localização, destinou-se o edifício da antiga fábrica das Moagens Harmonia. A razão de ser desta localização deveu-se a duas ordens de factores. Em primeiro lugar, tratava-se de um edifício emblemático, na medida em que era ele próprio um ícone da revolução industrial: tendo o Palácio do Freixo sido adquirido por um industrial de moagem para sua residência, nos terrenos anexos construiu a própria fábrica.
Em segundo lugar, entre as várias hipóteses que se punham de edifícios com conotações industriais e com possibilidades de albergar um Museu, as Moagens Harmonia pertenciam ao Estado, pelo que a sua passagem a propriedade municipal por permuta ficava desde logo facilitada.
Foi então instalado neste edifício o embrião do Museu da Indústria, num projecto Museológico em que se associou a constituição de uma colecção técnico-industrial com a preservação de um dos últimos edifícios oitocentistas emblemáticos da actividade industrial e comercial do Porto.
A Câmara Municipal e a AEP investiram neste projecto, ao longo destes 12 anos, 1,300.000 € para funcionamento e 310.906,65 € no projecto de Arquitectura para reabilitação do edifício e instalação do Museu.
Em 2002, foi reformulado o programa museológico e iniciou-se uma política de relançamento do Museu, tendo em vista a sua abertura ao grande público, que resultou, em Novembro de 2003, na aprovação de uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus no valor de 12.496,78 € para a realização da 2ª fase do Programa Museológico, e em Março de 2004, na aprovação e homologação de uma candidatura para a exposição permanente do Museu, com o tema "A Cidade e a Indústria", no valor de 199.808,00 €.
Não sendo fundamentalista quanto à localização do Museu - embora me pareça, pelos motivos já apontados, que o edifício das Moagens Harmonia seria o sítio ideal para instalar o Museu da Indústria além de, conjuntamente com o Palácio do Freixo, o Museu da Imprensa e o Parque Oriental, poder vir a ser um equipamento fundamental no desenvolvimento desta parte da Cidade - penso ser dever da Autarquia acautelar o futuro do Museu. Ele será um símbolo de identidade de uma Cidade e de uma região pioneiras no desenvolvimento industrial em Portugal. Sabêmo-lo por experiência própria, ao constatar a forma como os grandes industriais nortenhos têem acarinhado a ideia e têem oferecido grande quantidade de peças para o seu acervo museológico, esperando um dia vê-las convenientemente expostas. Sabêmo-lo também pela reacção das pessoas que ao longo destes anos têem visitado o embrião do Museu e, além de constatarem a excelência da sua localização, sentem o fascínio pelas peças expostas, e reconhecem o seu valor e o papel fundamental que desempenha na formação e educação dos públicos e da comunidade.
Ora não me parece que a proposta que será votada Terça-feira reúna as condições essenciais para ressarcir a Autarquia das verbas já dispendidas e para garantir a transferência e continuidade da existência do Museu, bem como de todo o trabalho de recolha, inventariação, pesquisa e formação já realizado.
A primeira pergunta a fazer é, para onde? A Câmara dispõe, propriedade sua, de outro edifício que comporte um Museu desta natureza? Penso que não. Também neste momento não tem possibilidades de adquirir ou novamente permutar um. O edifício da Alfândega? É uma hipótese, mas todos sabemos que a Câmara não detém a sua posse plena, que há outros inquilinos e outros compromissos que inviabilizam esta solução, pelo menos no curto e no médio prazo.
Por isso, a questão seguinte é, quando? E logo a seguir perguntamos, como?
Parece-me que não há, até ao momento, nenhum estudo sério destas questões, tão só o afã político de garantir uma pequena vitória numa votação e de se livrar de um imóvel - o Palácio do Freixo - a que não sabe o que fazer.
Além disso, parece-me ridícula - e despropositada - a inclusão na proposta de uma claúsula com um cunho"cultural" que contempla a obrigatoriedade de na Pousada "funcionar um núcleo de exposição permanente com algumas peças evocativas da história industrial do Porto". Ainda não está transferido o Museu, ainda não se sabe para onde, nem quando, nem como e já se estará a pensar abrir uma "filial"? Será uma questão de consciência pesada? Ou de total ignorância sobre os aspectos museológicos que isso comporta?
Não comento as restantes cláusulas que estipulam o retorno que o Grupo Pestana deverá entregar como contrapartidas à Autarquia. Sob o ponto de vista financeiro, a Câmara tem a obrigação de saber zelar pelos seus interesses.
Parece-me apenas que os portuenses deveriam ter uma intervenção cívica mais activa na defesa de um património que narra uma etapa fundamental da História da Cidade e é um símbolo da nossa identidade, o Museu da Indústria.
O facto de o Palácio do Freixo se encontrar devoluto, e de a Câmara do Porto não ter encontrado serventia para este edifício após a conclusão das obras de restauro que o Arq. Fernando Távora aí efectuou, fez surgir a ideia da instalação de uma Pousada, apesar das propostas apresentadas pela Associação Comercial do Porto no sentido de rentabilizar o Palácio numa perspectiva cultural e turística e que ficaram sem qualquer resposta, como é sabido.
O problema surgiu quando ao Palácio do Freixo foi somado o edifício da antiga fábrica da Companhia das Moagens Harmonia, onde, apesar das deficiências e urgentes necessidades de obras de conservação, tem funcionado a sede e o embrião do Museu da Indústria.
Não traria este tema à discussão não fora o caso de me parecer não estar devidamente acautelado o futuro deste Museu da Indústria, que julgo um equipamento cultural fundamental para a cidade do Porto e para toda a zona Norte do País.
A criação de um Museu da Indústria na cidade do Porto assume um relevo muito especial no actual panorama museológico português, pois o entendimento da cidade, do seu poder económico, do seu protagonismo político e do seu carácter urbanístico só poderá ser compreendido através da leitura do fenómeno de industrialização que ocorreu desde alvores do século XIX, fruto de um conjunto de factores que vão desde a morfologia do território e o seu rio, a uma população constituída por artesãos e burgueses endinheirados que desde os séculos XVII/XVIII vinham a investir no trato comercial e no nascimento de unidades industriais.
Do século XIX ao XX várias etapas, vários momentos marcaram esta história mas, nas últimas décadas, assistimos, por via das rápidas transformações económicas, sociais e das mutações tecnológicas, a uma deslocalização da indústria e mesmo ao seu desaparecimento do tecido urbano, ocorrendo um processo de desindustrialização que impôs à cidade novas configurações e a sua terciarização.
Foi neste contexto que em 1993 a Câmara Municipal do Porto e a Associação Empresarial de Portugal (ao tempo AIP) fundaram a Associação para o Museu da Ciência e Indústria com o objectivo principal da criação de um Museu da Ciência e Indústria, composto por colecções próprias, para além do desenvolvimento de acções de divulgação do património industrial da região do Grande Porto. Para a sua localização, destinou-se o edifício da antiga fábrica das Moagens Harmonia. A razão de ser desta localização deveu-se a duas ordens de factores. Em primeiro lugar, tratava-se de um edifício emblemático, na medida em que era ele próprio um ícone da revolução industrial: tendo o Palácio do Freixo sido adquirido por um industrial de moagem para sua residência, nos terrenos anexos construiu a própria fábrica.
Em segundo lugar, entre as várias hipóteses que se punham de edifícios com conotações industriais e com possibilidades de albergar um Museu, as Moagens Harmonia pertenciam ao Estado, pelo que a sua passagem a propriedade municipal por permuta ficava desde logo facilitada.
Foi então instalado neste edifício o embrião do Museu da Indústria, num projecto Museológico em que se associou a constituição de uma colecção técnico-industrial com a preservação de um dos últimos edifícios oitocentistas emblemáticos da actividade industrial e comercial do Porto.
A Câmara Municipal e a AEP investiram neste projecto, ao longo destes 12 anos, 1,300.000 € para funcionamento e 310.906,65 € no projecto de Arquitectura para reabilitação do edifício e instalação do Museu.
Em 2002, foi reformulado o programa museológico e iniciou-se uma política de relançamento do Museu, tendo em vista a sua abertura ao grande público, que resultou, em Novembro de 2003, na aprovação de uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus no valor de 12.496,78 € para a realização da 2ª fase do Programa Museológico, e em Março de 2004, na aprovação e homologação de uma candidatura para a exposição permanente do Museu, com o tema "A Cidade e a Indústria", no valor de 199.808,00 €.
Não sendo fundamentalista quanto à localização do Museu - embora me pareça, pelos motivos já apontados, que o edifício das Moagens Harmonia seria o sítio ideal para instalar o Museu da Indústria além de, conjuntamente com o Palácio do Freixo, o Museu da Imprensa e o Parque Oriental, poder vir a ser um equipamento fundamental no desenvolvimento desta parte da Cidade - penso ser dever da Autarquia acautelar o futuro do Museu. Ele será um símbolo de identidade de uma Cidade e de uma região pioneiras no desenvolvimento industrial em Portugal. Sabêmo-lo por experiência própria, ao constatar a forma como os grandes industriais nortenhos têem acarinhado a ideia e têem oferecido grande quantidade de peças para o seu acervo museológico, esperando um dia vê-las convenientemente expostas. Sabêmo-lo também pela reacção das pessoas que ao longo destes anos têem visitado o embrião do Museu e, além de constatarem a excelência da sua localização, sentem o fascínio pelas peças expostas, e reconhecem o seu valor e o papel fundamental que desempenha na formação e educação dos públicos e da comunidade.
Ora não me parece que a proposta que será votada Terça-feira reúna as condições essenciais para ressarcir a Autarquia das verbas já dispendidas e para garantir a transferência e continuidade da existência do Museu, bem como de todo o trabalho de recolha, inventariação, pesquisa e formação já realizado.
A primeira pergunta a fazer é, para onde? A Câmara dispõe, propriedade sua, de outro edifício que comporte um Museu desta natureza? Penso que não. Também neste momento não tem possibilidades de adquirir ou novamente permutar um. O edifício da Alfândega? É uma hipótese, mas todos sabemos que a Câmara não detém a sua posse plena, que há outros inquilinos e outros compromissos que inviabilizam esta solução, pelo menos no curto e no médio prazo.
Por isso, a questão seguinte é, quando? E logo a seguir perguntamos, como?
Parece-me que não há, até ao momento, nenhum estudo sério destas questões, tão só o afã político de garantir uma pequena vitória numa votação e de se livrar de um imóvel - o Palácio do Freixo - a que não sabe o que fazer.
Além disso, parece-me ridícula - e despropositada - a inclusão na proposta de uma claúsula com um cunho"cultural" que contempla a obrigatoriedade de na Pousada "funcionar um núcleo de exposição permanente com algumas peças evocativas da história industrial do Porto". Ainda não está transferido o Museu, ainda não se sabe para onde, nem quando, nem como e já se estará a pensar abrir uma "filial"? Será uma questão de consciência pesada? Ou de total ignorância sobre os aspectos museológicos que isso comporta?
Não comento as restantes cláusulas que estipulam o retorno que o Grupo Pestana deverá entregar como contrapartidas à Autarquia. Sob o ponto de vista financeiro, a Câmara tem a obrigação de saber zelar pelos seus interesses.
Parece-me apenas que os portuenses deveriam ter uma intervenção cívica mais activa na defesa de um património que narra uma etapa fundamental da História da Cidade e é um símbolo da nossa identidade, o Museu da Indústria.
(copy+paste d'o Nortadas)
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