Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Porto: Olhares cruzados sobre as elites do Porto II


Como referi aqui, foi de todo impossível conseguir assistir à conferência/debate subordinada ao tema "Onde Estão as Elites do Grande Porto?", realizada no âmbito do ciclo Olhares Cruzados sobre o Porto, promovido pelo Público e pela Universidade Católica, em 22 de Novembro.
Felizmente, o mesmo diário apresentou, na edição Local Porto, o texto da intervenção inicial de António Barreto e que pode ser lido, na íntegra,
aqui. Excertos:

Por que razão tantas vezes nos interrogamos sobre as elites do Porto, ou do Norte? Não será estranha esta obsessão com a identidade do Norte, o peso do Norte, a existência ou não de elites no Norte? Fazer-se esta pergunta não será já confessar que alguma coisa está errada?
A meu ver, esta obsessão tem razão de ser. Na verdade, ao Norte e ao Porto faltam algumas coisas. Não as elites, mas um papel para essas elites. E falta um factor aglutinante. Em poucas palavras, falta poder político, ou representação aceite dos interesses e das realidades locais e regionais.
(...)
O Porto e o Norte têm tudo o que seria necessário para fundar um protagonismo de carácter e de que as populações aproveitariam. Têm dimensão, riqueza, produção económica, emprego, tradições, empresas, património histórico e cultural, ciência, escolas, técnicos e relações comerciais com o mundo suficientes para sustentar uma personalidade citadina que ultrapasse a região.
Têm, mas nem sempre parece que os portuenses ou as gentes do Norte utilizem esses meios e instrumentos. Dentro do Norte e do Porto, há mais rivalidades do que cooperação, mais adversários do que cooperantes.
(...)
Parece que os melhores, os mais atentos, os mais empenhados acabam por pensar que o seu contributo deve ser sempre canalizado pelo poder central. Por isso é fácil vermos membros da elite portuense cooperar com o poder central e é difícil vermos os mesmos cooperar entre si pela cidade e pela comunidade do Norte
.

Tive imensa pena de não estar presente, mas este texto de António Barreto é, como habitualmente, lúcido e preciso. Na verdade, a história das "elites do Porto" surge não como acção ou como reacção, mas antes como afirmação. Só que continua a haver Lisboa, qual Nemesis, e este é e sempre será o problema da cidade. O Porto tinha muito mais a ganhar se olhasse para o que está à sua volta e, especialmente, o que tem a Norte, do que estar preocupado com o que pensam, o que fazem e o que dizem os que estão a 300km a sul.
Não me canso de dizer que a Galiza merece bem mais atenção do que Lisboa. Esta que continue a ser capital e que o fosso que a separa do resto do país continue a crescer. A partir de certa altura, o problema não será o país que está atrasado, mas Lisboa que está demasiadamente adiantada. E ficará isolada.
O Porto e o Norte merecem melhor sorte e não precisam de nada, nem de ninguém, para se afirmarem com a identidade que sempre reivindicaram e com a independência moral e intelectual que sempre os distinguiu. O problema da eterna comparação com a irmã mais rica e mais cosmopolita deverá ser aceite como uma evidência. O sucesso de uma instituição como o FC Porto é um excepção que confirma a regra. Lisboa é maior, tem mais poder, tem mais gente, tem mais instiotuições e goza, em termos genéricos, de uma melhor qualidade de vida. Mas isso não a faz melhor nem pior do que o Porto, apenas diferente. Assim, esta "mui nobre, invicta e sempre leal cidade" só tem de se segurar àquilo que tem de mais rico: a sua personalidade.
Para isso faltará, sem qualquer dúvida, mais poder. Não será preciso uma qualquer regionalização, mas uma melhor articulação dos poderes. Não passa pela cabeça de ninguém que a localização de uma mísera saída de um túnel na cidade seja assunto nos corredores de um Ministério em Lisboa! Como também não pode acontecer que, para se discutir um assunto judicial passado num porto de mar do Norte se tenha de ir a Lisboa, ao Tribunal Marítimo. Há serviços, instituições e departamentos do Estado que podem perfeitamente ser descentralizados e isso aumentaria, e de que maneira, a produtividade das empresas e a satisfação das necessidades dos particulares.
Neste contexto, o papel da elites deverá ser reivindicativo. Mas, uma vez obtido este objectivo, elas poderão, então, avançar para o seu papel natural: o de serem formadoras. A elite como génese de novos elementos, individuais ou colectivos, proporcionará à cidade e à região uma maior visibilidade e, fechando o círculo, um maior poder reivindicativo. As elites enquanto porto de abrigo, mas, também, enquanto motor de uma região. É que, actualmente, o que elas fazem é viajar até Lisboa, em troca de favores. Como refere António Barreto, "os melhores, os mais atentos, os mais empenhados acabam por pensar que o seu contributo deve ser sempre canalizado pelo poder central". Ora, isto tem de acabar. Não por um orgulho bacôco, mas por genuíno brio e por uma extraordinária confiança nas próprias capacidades.

(copy+paste do Vilacondense)




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