Há qualquer coisa de perverso (deveria dizer sórdido?) e quase masoquista na cabeça de Rui Rio, que o leva a actuar quase sempre da forma errada. Não são só os fins - obviamente discutíveis -; são os meios para os atingir. Se a Cultura parece ser uma fobia, a forma de a suprir é tanto mais insólita quanto o facto de nunca a conseguir concretizar sem o recurso a um circo que nunca prescinde de um batalhão da polícia municipal. Foi assim na substituição da Associação de Gabinete de Desporto do Porto pela Porto Lazer; foi assim quando decretou a privatização do Teatro Rivoli; foi assim hoje com a alegada extinção da Culturporto.
Pergunto-me: para lá da esfera estritamente legal, não encontrará Rui Rio, na sua concha ética, uma forma decente de concretizar as suas medidas? Sem atropelar funcionários ou sem encontrar, posteriormente, na comunicação social a causa do mal da sua desventura?
A esta altura, reler o capítulo do seu programa eleitoral dedicado à Cultura assemelha-se à leitura de uma manual de anedotas. O presidente da Câmara do Porto afirmou, há menos de meio ano, que "o futuro da cidade passa por uma aposta na cultura e por um esforço do sentimento de cidadania e da integração na comunidade". Nota-se.
Acrescentava ainda, para justificar a importância na aposta, que "o Porto 2001 foi uma oportunidade perdida, cujos efeitos se esgotaram no momento, não tendo conseguido criar novos públicos que ajudassem a construir mais facilmente o futuro". Curiosa afirmação quando a ele se deve a falta de continuidade do projecto. E de todos os projectos filhos desse projecto maior. Assim, de repente, em que estado estão os caminhos do romântico? Que foi feito dos ateliers da lada?
Rui Rio comprometia-se também a "ouvir as necessidades sentidas pelas instituições culturais e pelas associações/fundações e participar numa reflexão sobre a importância da cultura para a cidade, pedindo uma programação, com projectos de qualidade, estimulando a inovação". Alguém foi ouvido?
Dizia querer "reafirmar a importância da cultura na cidade, aproximá-la das pessoas, divulgando bem o conceito de cultura que está subjacente a este novo projecto (melhoria das competências, condição para melhor obtenção de emprego, factor de melhoria de vida e de ascenção social) (...), restabelecer uma relação orgulhosa e civilizada dos portuenses com a sua cidade, equilibrar as produções efémeras com o desenvolvimento de projectos estruturantes, remodelar toda a estrutura de divulgação, a começar pela Culturporto, que tem que ser restruturada".
Se isto não é mentir descaradamente, o que é?
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