Kosta de Alhabaite

Nortenho, do Condado Portucalense

Se em 1628 os Portuenses foram os primeiros a revoltar-se contra o domínio dos Filipes, está na hora de nos levantarmos de novo, agora contra a corrupçao, o centralismo e colonialismo lisboeta!

Babel

Babel é o terceiro filme da triologia de Iñarritu sobre a morte. Depois de um interessante Amores Perros e de um bom 21 Gramas, surge um Babel que atinge a redenção com um final original.
Babel é um filme interessante mas também, podemos dizê-lo, desonesto. Já conhecíamos os recursos visuais da dupla Alejandro González Iñárritu (realizador) e Rodrigo Prieto (director de fotografia) e Babel volta a ser estilisticamente desembaraçado, eficaz e vistoso.
A utilização de metáforas, bem patente no cinema mexicano, é explorada por Iñarritu quase até ao esgotar do filão. A torre e as torres de Babel que aparecem no final, a ligação invisível entre o miúdo marroquino e a japonesa, o facto de ser uma arma a ligar todas as histórias (antes de qualquer internet foram as armas a globalizar a sociedade) são exemplos disso. Mas não são os únicos casos, as metáforas espreitam um pouco pelo filme todo.
O problema, quanto a mim, é que no seu moralismo à escala global, no seu simplismo dramático (o que aqui se filmam são personagens como se fossem pessoas comuns que nunca chegam a ter espessura psicológica, tornando-se meros peões de uma dramaturgia que parece assentar na Lei de Murphy: tudo aquilo que pode correr mal...), este filme de Iñarritu estabelece um jogo perverso com o espectador, baralhando as coordenadas temporais e alimentando uma certa desinformação, para capitalizar na chantagem emocional que visa agitar a nossa má consciência de cidadãos privilegiados a habitar um mundo em profunda crise de valores. Em determinados momentos, a manipulação vai a pontos de evocar situações dramáticas universalmente reconhecíveis como o drama dos refugiados mexicanos que procuram atravessar para os Estados Unidos ou aquela cena que a TV ajudou a fazer chegar ao mundo inteiro e que mostrava um pai e um filho palestianianos apanhados num fogo cruzado que acabaria por matar um e depois o outro. Parece-me de facto desonesto reproduzir este tipo de situações quer para garantir maior impacto emocional pela inversão de papéis (aqui são duas crianças americanas mais a criada mexicana que ficam perdidas no deserto, enquanto que do outro lado do oceano, mais concretamente em Marrocos, os pais vivem uma situação dramática equivalente), quer para efectuar a mais simplista evocação do desespero e da impotência paterna de modo a deixar claro quem são as vítimas e no lado oposto a identidade abstracta de todo um mundo que movido por interesses de uma escala onde estes não cabem, acaba por conspirar para a sua desgraça: o mecanismo aqui é de tipo Efeito Borboleta. E Babel consegue tão plenamente os objectivos, quanto já viu reconhecidos os seus méritos em Cannes - de onde saiu com um prémio de realização - e se prepara agora para tomar de assalto os Óscares entregues no final do próximo mês. Babel representa aquele tipo de filme que permite ao espectador, tanto mais ocidental melhor, fazer a catarse da sua culpa por fazer parte deste mundo doente e em nada contribuir para que as coisas sejam diferentes. Pela parte que me toca, admiro algumas imagens mas repudio o messianismo e a exibição da consciência moral do senhor González Iñárritu.

Apreciei a sua forma de cortar o tempo em pedaços e espalhá-los pelo filme. Parece ocorrer tudo em simultâneo mas existe uma separação temporal que só é bem visível quando se ouve o mesmo telefonema em duas partes distantes do filme (em espaço e em tempo) e talvez esta ligação telefónica também simbolize a tecnologia presente atrás da tal globalização humana...

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